quarta-feira, outubro 11, 2017

(EdH) A Revolução cem anos depois (II): um César de fraca figura

Até que a Revolução de 1905 veio pôr em causa essa leitura o czar era tido como o detentor de um poder autocrático de alcance ilimitado. O título era um derivação de César, imperador dos romanos, Aliás, como sucedia com o termo kaiser para o imperador alemão.
O czar era igual a Deus como proprietário das almas e das terras. Reinava com o apoio do exército comandado por aristocratas, do poderoso clero e da temível polícia secreta, a Okrana, que se dizia estar espalhada por todo o lado. No entanto, comprovava-se ser ela insuficiente para prevenir o crescente deflagrar de atentados terroristas e de movimentos de protesto, quer nos campos, quer nas fábricas instaladas pelo incipiente processo de industrialização.
Nicolau II era um fraco, que se ajustava mal a esse poder autoritário. Ao contrário do progenitor, que possuía imponente compleição, desiludia quem o pretendia ver ajustado às pretensões do cargo apresentando-se na sua fraca figura. Em 1910 reinava sobre 160 milhões de súbditos, dos quais 130 eram camponeses sujeitos a atroz miséria apesar de ter cessado, cinquenta anos antes, o regime de servidão. As reformas lançadas desde então pouco tinham alterado os destinos dos que faziam da Rússia o principal produtor e exportador de cereais a nível mundial.
A esperança de vida estava nos 35 anos e os esfomeados camponeses reagiam através dos cultos religiosos, que lhes incutiam resignação, dos copos de vodka, ou algo que se lhe aparentasse, e, de quando em quando, com revoltas logo brutalmente sufocadas. O seu desenvolvimento cultural era muito baixo, sobretudo no respeitante à consciência política. O que não admira: o poder proibia os mais elementares direitos de associação, incluindo a organização de partidos políticos. Só assim se poderia manter uma situação social marcada por gritantes desigualdades.
Quando, em 1913, a coroa russa celebrou com grande pompa o tricentenário da dinastia dos Romanov, Nicolau II recebeu conselhos quanto à necessidade de reformar as instituições políticas, mas fez-lhes ouvidos de mercador. É que, em 1881, vira o primo, Alexandre II, ser assassinado precisamente depois de ter encetado um projeto de alteração liberal insuficiente para contentar os detestados extremistas.
Os revolucionários, porém, não provinham apenas das classes sociais fustigadas pela miséria: a maioria até era aristocrata ou de famílias burguesas como era o caso de Lenine, que vira o irmão enforcado em 1887 por atividades conspirativas contra o czar e ele próprio conhecera o degredo na Sibéria antes de tomar o caminho do exílio para vários países europeus.
Seria na Suíça que o futuro chefe bolchevique seria apanhado se surpresa pela revolução de fevereiro de 1917.

Sem comentários: