quinta-feira, outubro 12, 2017

(DL) Coisas de livros (I): Joyce Carol Oates, Maya Angelou, Jean Luc Godard e Marguerite Duras

1. Vou prosseguindo a leitura de «Rapariga Negra, Rapariga Branca», de Joyce Carol Oates, longo relato de Genna Mead sobre o ano em que partilhara o quarto da residência universitária com Minette Swift, uma colega negra, que morreria - tanto quanto posso prever! - por causa do bullying a que era sujeita pelas demais condiscípulas. E para não arriscar um pendor excessivamente maniqueísta, a autora - todos os anos incluída no lote dos potenciais galardoados com o Nobel - dá da futura vítima um retrato pouco simpático: engorda por causa das gulodices enviadas pela mãe, é arrogante no fanatismo religioso trazido da congregação onde o pai é pastor, e rejeita todas as tentativas da narradora para dela se aproximar e criar laços de amizade. Para além de adornar os olhos com uns ridículos óculos cor-de-rosa em plástico.
Mais de meio livro vencido, não posso imaginar como se concretizará a morte anunciada, embora as circunstâncias estejam a torná-la progressivamente credível no leque das hipóteses. Um dos aspetos mais surpreendentes até agora é o da tentação frequente de Joyce Carol Oates prescindir do registo da narradora para olhar para a intriga a partir de uma perspetiva exterior. Embora volte apressadamente a retomar a voz de Ginette.
2. Por esta altura anda nos escaparates das livrarias o primeiro dos títulos de Maya Angelou evocativos do seu passado na América do período anterior à Segunda Guerra Mundial.
Nascida em 1928 a ativista negra dos direitos das minorias também exime-se a uma divisão do mundo entre os bons e os maus, porque cresceu entre famílias disfuncionais em que a promiscuidade facilitava a violação como experiência traumática. Entre o Arkansas rural e a Califórnia, Maya convida-nos para uma viagem em que a violência racial está omnipresente e suscita a vontade emancipadora, que nortearia o seu prestigiado futuro.
3. O cinema e a literatura têm-se influenciado desde que o primeiro teve a sua primeira demonstração pública em 1895, nunca deixando de haver filmes baseados em romances, novelas e contos, ou estórias ficcionadas suscitadas pelo estímulo visual de imagens projetadas num ecrã.
Falando sobre essa interação, Jean Luc Godard disse um dia a Marguerite Duras, que era como se ambos viajassem em comboios condenados a continuamente cruzarem-se. 

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