Quando se atinge o crepúsculo de uma vida bem vivida, o desafio é o de envelhecer bem. Porque, como dizia a avó Josefa de Saramago, a vida é tão bonita que é uma pena termos de a deixar…
Ludovic Vilot realizou um documentário sobre o assunto e que intitulou «Le Bonheur de Vivre» (2011). Para lhe dar substância pediu o testemunho a cinco octogenários para que dessem as respetivas receitas para enfrentar esta fase com a lucidez e a sageza adequadas.
O primeiro a confessar-se é Claude que, aos 83 anos, ainda se diz preparado para uma nova experiência amorosa, tanto mais que já se tinham passado quatro anos desde que vivera a mais recente. E critica quem considera prioritária a satisfação profissional em detrimento da satisfação afetiva.
Infelizmente Claude não terá oportunidade para viver o almejado enamoramento já que terá morrido durante a rodagem do filme.
Madeleine tem 87 anos e foi em tempos empregada administrativa. O que mais lamenta é o desaparecimento dos amigos ligados aos anos mais estimulantes do seu passado. Agora sente-se menos agressiva do que quando contava sessenta anos e compra cada vez menos coisas para si. Mas sente a falta da ternura propiciada por um homem, ela que sempre a conheceu com o saudoso marido. Que considera insubstituível nessa carência. Por isso pensa, sobretudo, na morte, e não sendo religiosa, deseja que lhe distribuam as cinzas pela floresta.
Frida tem 85 anos e ainda acolhe seminários na sua vasta residência. Embora sinta dores rejeita os remédios, que as pudessem minorar porque, de acordo com um amigo, eles existem para ser vistos e não propriamente para serem tomados.
Um dos seus prazeres consiste em acariciar as folhas de algumas árvores, que se assemelham a pele humana. Sinal de uma sensualidade que continua presente em si. Mas lamenta que todos quantos ainda pudessem ser seus potenciais companheiros já estejam mortos. Agora sente já ter vivido suficientes histórias amorosas para se poder contentar com uma eventual caricatura. Até porque um dia, sem disso se dar conta, o desejo sexual evaporou-se…
Jaqueline tem 81 anos e foi psicanalista. O seu prazer consiste em andar pelas ruas e ler policiais. Longe vão os tempos de rebeldia e de quando se indignava com as injustiças sociais. Que hoje lhe são quase indiferentes.
Abordando o tema da solidão ela diz algo impressivo: tendo julgado conhecer em tempos a solidão só agora dela se dá verdadeiramente conta com outra profundidade. Ela é a única a expressar a esperança de uma permanência par além da morte, nem que só traduzida numa qualquer forma de energia.
E resta enfim Roger, um antigo lenhador, agora com 84 anos. Aquele que nunca abdica dos seus passeios pela floresta, mesmo quando ela mais parece um tapete de folhas sobre um traiçoeiro piso de lama. E o único a vangloriar-se de uma sexualidade ainda ativa com uma viúva sua conhecida. Mesmo que cada um continue a viver recatadamente nas respetivas casas…
Estes testemunhos, associados a uma excelente fotografia e a alguns haikus oportunamente inseridos pelo meio, só suscitam uma inevitável nostalgia por tudo quanto ficou para trás e já não se pode recuperar...
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