quarta-feira, outubro 29, 2014

LEITURAS: «1Q84» de Haruki Murakami (2º volume) IX - A punição dos crápulas

No início do segundo volume Aomame visita a anciã que a costumava contratar para punir os violadores e outros perpetradores de violência doméstica. Encontrara-a penalizada pela forma brutal como fora morta a cadela de estimação e pelo desaparecimento de Tsubasa, uma miúda de dez anos, que acolhera na Casa de Abrigo adjacente à sua propriedade.
A nova encomenda consiste em matar o Líder da seita Vanguarda: “Como sabes, esse homem tem por hábito violar rapariguinhas de dez anos, que não tiveram ainda a sua primeira menstruação. Para justificar tais atos, inventou uma doutrina e aproveita-se da comunidade religiosa a que pertence, explorando ao máximo o seu próprio sistema. Mandei averiguar o assunto o melhor que pude e confiei a investigação a profissionais dignos de confiança, o que me custou mais do que o previsto. Não foi tarefa fácil. Isto para dizer que conseguimos, ao fim de muitas diligências, identificar quatro meninas que, tudo leva a crer, terão sido violadas por esse homem. A Tsubasa foi a quarta.” (pág.16)
Aomame começa de imediato a preparar-se para a nova missão ouvindo a Sinfonietta de Janacek e olhando para o céu aonde, estranhamente, continua a ver duas luas. Algo porém mudará em breve: a mudança de identidade e de residência tão só cumprido o homicídio previsto.
“Estava tudo pronto. Mentalmente encontrava-se preparada. Poderia abandonar o apartamento em qualquer momento, bastava que Tamaru desse sinal de vida. No entanto, a chamada telefónica nunca chegou a acontecer”. (pág. 77)
No entretanto também morre a polícia sua amiga com quem se acostumara a partilhar noitadas de sexo puro e duro com parceiros de ocasião encontrados em bares. Arriscando-se sozinha a uma dessas surtidas, Ayumi fora estrangulada num quarto de hotel, encontrando-se nua e algemada à cama.
Tengo, cujo percurso temos acompanhado em paralelo com o de Aomame, é visitado por um personagem sinistro, Ushikawa, que lhe vem oferecer uma bolsa de três milhões de ienes em nome de uma desconhecida Nova Associação para o Desenvolvimento das Ciências e das Artes do Japão. Por subentendidos deixa perceber que sabe ter sido ele quem reescrevera o livro da desaparecida Fuka-eri, ameaçando-o com a divulgação dessa fraude à imprensa.
Já em casa, Tengo senta-se na cozinha a beber chá frio e a pensar na rapariga, que escrevera a primeira versão de «A Crisálida de Ar»: “O que faria ela durante todo o dia, sozinha, encerrada no seu esconderijo distante? Mas, naturalmente, ninguém podia saber o que fazia Fuka-eri!
Na mensagem enviada em forma de cassete, ela tinha dito que a sabedoria e a força do Povo Pequeno poderiam causar danos, tanto ao Professor como ao próprio Tengo. Na floresta é melhor ter cuidado. Tengo olhou invariavelmente à sua volta. Sim, o coração da floresta era o mundo deles (pág. 55)
Confirma-se, entretanto, a ligação potencial entre Aomame e Tengo. Vinte anos atrás eles tinham sido colegas na escola primária, saldada com a primeira ejaculação dele mediante a masturbação.
Nunca mais ela lhe saíra do pensamento, impedindo-o de amar quem quer que fosse...

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