Há um milhar de anos Hasan al-Sabbah fundou a seita dos Assassinos, sendo considerado por uns como um combatente revolucionário e por outros como um terrorista sanguinário.
Muçulmanos, que obedeciam a uma das derivações suscitadas pelo reconhecimento de diferentes herdeiros de Maomé - e que hoje mantém o Médio Oriente a ferro e fogo por causa do ódio visceral entre sunitas e xiitas - os Assassinos celebrizaram-se pela forma como assumiam o dever sagrado de matar os inimigos da Verdade. O seu nome tinha a ver com o facto de consumirem haxixe e, por isso serem conhecidos em árabe pelos nomes de ḥashshāshīn ou ḥashīshiyya.
Eles constituíam um ramo dos ismaelitas, que se tinham separado dos Fatimidas do Egito por estes terem recusado obediência a Musta’li, o filho mais novo do califa Mustansir bi’llah, para quem o pai transferira a liderança do imanato conferida anteriormente ao seu primogénito Nizar.
Os ismaelitas, sedeados nos atuais territórios sírio e iraniano, mantiveram o reconhecimento de Nizar, que estava prisioneiro no Egito. Daí também serem conhecidos como Nizaritas. Reivindicavam a pureza do seu ideal religioso, que se conservava meramente espiritual, sendo-lhes hostis o legalismo e o institucionalismo dos fatimidas.
Em 1090. Hasan al-Sabbah, o «Velho da Montanha», conquistou a fortaleza de Alamut e transformou-a no centro inexpugnável de todas as atividades guerreiras ou de propaganda da seita. Construída a elevada altitude e com acessos difíceis, converteu-se no local ideal para centralizar a preparação dos atentados contra os adversários religiosos e políticos. E para facilitar a comunicação com a dezena de outras fortificações em breve conquistadas pelos seus súbditos, Hasan promoveu um tipo de código baseado em sinais luminosos com grande semelhança com o futuro Morse.
Um cruzado europeu, Guilherme Tyrio, escreveu um texto sobre Hasan em que descrevia os seus discípulos tão fielmente ligados a ele, que não hesitavam em avançar para atentados suicidas contra quem ele lhes indicasse como alvo. Em 1092 o vizir persa torna-se numa das suas mais proeminentes vítimas. A que se seguirão alguns dos principais dignitários do sultão, já que os alvos serão sempre resonsáveis políticos ou religiosos.
A notoriedade da seita é tal que os trovadores das cortes europeias compusessem temas fervorosos às suas damas, declarando-se ainda mais fiéis a elas do que os Assassinos ao Velho da Montanha.
Hassan é de facto tão duro, austero e impiedoso, que chega a mandar executar um filho por este ter bebido vinho. Durante trinta e quatro anos ele vive fechado na sua cela em Alamud, sempre a estudar e a fazer experiências, só saindo duas vezes para ver as estrelas.
Falecendo em 1124, Hasan al-Sabbah foi sucedido por Buzurg-ummīd, incumbido da da‘wā (propaganda). Será o seu neto Ḥasan‘alā dhikrihi' l-salām a mostrar a desmedida ambição de se proclamar não só dā‘ī (chefe da propaganda) mas também khalīfa, representante do imã escondido, havendo quem pense ser sua intenção ser reconhecido como esse mesmo líder espiritual.
É ele quem anuncia a Grande Ressurreição e reivindica a responsabilidade das Verdades esotéricas, manifestações dos Mandamentos (amr) e do Verbo (kalima) divino. O poderoso Saladino escapará por uma unha negra a um atentado, que ele promoverá.
Mas o êxito da seita não conseguirá manter-se-quando poderosos inimigos chegam de leste: em 1256, Alamut foi conquistada pelos Mongóis, só sobrevivendo desde então o espírito da seita. Mas, singularmente, o tolerante e prestigiado Aga Khan é dela um longínquo descendente.
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