Enquanto para Newton o Espaço era passivo, para Einstein é dinâmico, condicionado pelo Tempo, que define como se movimenta. Com o inventor da Teoria da Relatividade o Espaço já não pode ser visto como algo de estático: é um ator e desempenha papel de protagonista no espetáculo cósmico. Pode-se-o conceber como uma espécie de tecido dinâmico, ativo e flexível, que seria melhor entendido se fizéssemos uma viagem ao interior de um buraco negro.
Os buracos negros são o que resta de estrelas, que explodiram e têm um tamanho ínfimo em comparação com o inicialmente existente. Na sua proximidade, segundo Einstein, a gravidade atinge valor tão elevado, que é capaz de torcer o espaço como se ele fosse um pano amarrotado.
O problema, que se colocou aos cientistas desejosos de confirmarem esta teoria foi o de terem o buraco negro mais próximo a muitos milhões de quilómetros. Mas no final dos anos 50 um cientista chamado Leonard Schiff refletiu sobre a forma de superar essa limitação, inspirando-se num brinquedo infantil: o pião. Imaginou assim um giroscópio colocado em órbita da Terra para ver como se comportaria: teoricamente em vez de adotar o movimento de circulação, que lhe seria habitual, dever-se-ia comprovar experimentalmente a alteração ao eixo desse movimento causado pela influência do movimento da própria Terra, desviando-o o bastante para poder medir-se.
A dificuldade com que Schiff e os seus colegas Bob Cannon e Bill Fairbank depararam foi com a previsão de Einstein, segundo o qual, a distorção do Espaço suscitado pelo movimento da Terra seria ínfima. Tão ínfima, que corresponderia a medir o diâmetro de uma moeda a cem quilómetros de distância.
Durante dois anos a equipa de Schiff andou a dar tratos à cabeça de como tornar possível essa medição. A alternativa consistiu em fixar quatro giroscópios na extremidade de um telescópio apontado para uma estrela distante. Se o espaço se deformasse, ao fim de algum tempo, ele deixaria de estar apontado para ela por se ter entretanto desviado.
Em 1962 decidiram pedir um milhão de dólares de subsídio à NASA para concretizarem um programa intitulado Gravity Probe B, que deveria produzir conclusões no prazo de três anos.
Verificou-se que eles pecaram por excessivo otimismo: com uma equipa que foi crescendo ao longo dos anos, a Gravity Probe B revelou-se uma das mais longas experiências científicas. Porque implicou criar um telescópio espacial muito apurado e giroscópios de uma fiabilidade irrepreensível.
Por nove vezes a NASA ponderou em pôr cobro a um projeto, que ia perdurando década após década e com um custo já da ordem dos 750 milhões de dólares.
Finalmente, em abril de 2004, foi lançado para o espaço o equipamento destinado a comprovar a validade da teoria de Einstein. Dos três cientistas, que tinham estado na origem do projeto só Robert Cannon ainda estava vivo.
Durante um ano a Gravity Probe B orbitou em torno da Terra enquanto a equipa analisava todos os dados por ela recolhidos. Só que se concluiu pela existência de uma ligeira oscilação dos giroscópios, que afetavam os resultados, Corrigi-los custaria milhões de dólares suplementares.
Os fundos investidos no projeto estavam quase esgotados e quase meio século de esforços pareciam reduzidos a nada. Depois, quando os braços começavam a baixar, surgiram duas fontes inesperadas de financiamento, uma oriunda do filho de Bill Fairbank e outra da família real saudita.
Nos dois anos seguintes, os dados foram corrigidos e concluiu-se que as equações de Einstein quase correspondiam ao desvio do eixo dos giroscópios em órbita.
Tratou-se da primeira vez que se pôde comprovar a olho nu a justeza das previsões de Einstein. Tratou-se, pois, da primeira experiência científica a confirmar que a distorção do Espaço é mesmo real, assemelhando-o ao tal tecido previamente sugerido.
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