sábado, outubro 11, 2014

ÉCRANS: «Attila Marcel» de Sylvain Chomet

Um provérbio muito conhecido da língua portuguesa é aquele em que se critica o competente sapateiro por tocar desafinadamente o rabecão.
Quase sempre cumpre-se essa regra: gente que  se mostra com qualidades num contexto, acaba por se espalhar ao comprido quando a ambição os leva a testá-las num outro bastante mais complexo.
O que se passou com o realizador francês Sylvain Chomet comprova-o: quando, em 2003, dele conhecêramos a longa-metragem de animação intitulada «As Bicicletas de Belleville» ficáramos entusiasmados com a imaginação com que criara a história e a forma poética como a construíra.
Sete anos depois, outro filme de animação, «O Mágico», baseado num argumento de Jacques Tati, também merecera apreciação positiva, ainda que desse a ideia de conter potencial para chegar muito mais além.
De 2013 surgiu-nos agora «Attila Marcel», que Chomet decidiu criar com recurso a atores. Mantém-se alguns dos personagens-tipo dos filmes anteriores (as velhas tias, um jovem tímido,  uma vizinha dotada de poderes mágicos com base nas suas tisanas), a presença da música e dos bailes  e os mesmos espaços citadinos, embora periféricos, mas não se garante a mesma empatia. Em muitos momentos Chomet conduz os atores a comportarem-se como se fossem desenhos animados, perdendo-se no ritmo da ação, frequentemente sentida como entediante. Tanto mais que imitando o que de pior tem Jeunet, o realizador de Amélie Poulain,  C homet enche muitos dos planos com uma quantidade surpreendente de quinquilharia de época com o resultado dela nada acrescentar à história e só distrair do seu normal desenvolvimento.
A história conta-se muito sinteticamente: desde os dois anos que o jovem Paul não fala, traumatizado pela forma como vira morrer os progenitores. Incapaz de recuperar as memórias com que possa operar a pretendida catarse ele é empurrado para elas graças aos chás de uma vizinha singular.  Mas ele não se ficará apenas pela recuperação da voz, já que pelo caminho afiambra-se a uma asiática com quem procria o seu primeiro rebento…
Abordando a morte e a memória dos que desapareceram, o filme foi o último interpretado por Bernadette Laffont, entretanto desaparecida... 

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