sábado, outubro 25, 2014

ECRÃ: A maturidade de Colin Firth

É o próprio Colin Firth quem o afirma: até aos 49 anos sempre se considerou um ator aborrecido, por muitos desempenhos memoráveis, que nos tenha dado, como foi o caso do «Valmont» de Milos Forman ou o personagem de Mr. Darcy na série inglesa retirada do «Orgulho e Preconceito« de Jane Austen.
Só a partir de «Um Homem Singular», o filme que Tom Ford rodou em 2009 baseado no romance de Christopher Isherwood, é que Firth se considerou um ator meritório. Até porque chegara à profissão como forma de catarse de toda uma infância de nómada a acompanhar os pais, professores, pelos países onde eles iam sendo colocados, desde a Nigéria aos Estados Unidos, passando pelo Canadá. Terá sido essa obrigação em fundir-se com uma nova cultura em cada mudança, que terá possibilitado ao jovem Colin desenvolver os dotes de camaleão de que se serviria depois na sua carreira de ator.
Passar de um papel para outro, de um local de rodagem para outro qualquer sítio onde se situe a produção seguinte, fá-lo replicar esse passado dos progenitores,  sempre sem um local fixo, que defina como seu.
A profissão permite-lhe reconstruir um mundo familiar, feliz e caloroso, enquanto olha, irónico e de forma distanciada, para as honras e prémios, que vai acumulando.
Recentemente ele regressou aos ecrãs lisboetas num filme de Woody Allen, que teve sucesso mitigado: «Magia ao Luar». Passado na época dos «Anos Loucos», Firth é um prestidigitador, que conhece bastante bem todos os truques para criar a ilusão, mas fica atónito com o encanto de uma jovem espírita capaz de lhe perturbar as certezas.
Numa entrevista ele explicou a razão porque desejava tanto trabalhar com Woody Allen: é que ele deu-lhe páginas e páginas de texto sobre a sua personagem, dando-lhe a liberdade de cortar o que não quisesse e até de lhe facultar um momento de «to be or not to be» sob a forma de um monólogo.
Para quem considera «Hamlet» o personagem mais fascinante da história do teatro, a experiência do filme foi imperdível. Mas não só: esse estado de dúvida criado em Stanley, até aí convicto da sua imperturbável racionalidade, fê-lo sentir-se no duplo do realizador, também ele um mágico a precisar de crer na sua própria magia.

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