quarta-feira, novembro 01, 2017

(DIM) Lobos selvagens, esses grandes viajantes

Comecei por ter dos lobos a pior ideia possível. Nas histórias infantis eram capazes de comerem a avó do Capuchinho Vermelho ou pregarem um susto de morte ao Pedro, que gostara de brincar com os vizinhos sobre ataques inexistentes. Cresci a ler romances e contos em que aldeãos isolados viam-se acossados por tais animais em noites escuras e invernais
Em adulto, sempre que nos aventurávamos na natureza, fosse no Puy-de-Dôme coberto de neves, fosse nos estivais Pirinéus, temi sempre que alcateias andassem por perto. E, no entanto, como não achar lindíssimos os animais, que vozes avisadas nos iam dando conta de desmerecerem de tão injusta má fama?
Nos últimos anos, com a utilização de coleiras GPS, tem-se comprovado o que já se sabia - a capacidade dos lobos jovens em percorrerem longas distâncias para se fixarem em novos territórios e aí fundarem tribos próprias com concupiscentes fémeas encontradas pelo caminho.
Num documentário de longa-metragem de Volker Schmidt-Sondermann - «Lobos selvagens à solta» - seguem-se os percursos de três animais jovens, que chegam a percorrer centenas de quilómetros por toda a Europa Central até se fixarem muito longe donde haviam nascido. Nessa odisseia atravessam autoestradas movimentadas e rios caudalosos, contornando cidades e homens ou enfrentando outras alcateias dispostas a não tolerarem intrusos.
O italiano Ligabue vai da região de Parma até aos Alpes marítimos franceses, Alan começa no nordeste da Alemanha até perder-se algures na Bielorrússia e o esloveno Slavko atravessa toda a Áustria e a Itália até encontrar-se com Giulia nos arredores de Verona, que viera de direção geográfica oposta.
Para gáudio dos biólogos e irritação dos pastores e criadores de gado, as populações de lobos estão a expandir-se por toda a Europa depois de quase dela terem sido erradicados no século passado. E é tendência para se acelerar, porque as megaconcentrações populacionais em torno das cidades modernas, tendem a despovoar grandes áreas logo recapturadas pelas espécies selvagens. O lobo é só um exemplo lapidar de como a Natureza reivindica os seus direitos, quando o predador humano se ausenta...

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