quarta-feira, novembro 29, 2017

(DL) A história de um europeu

Em 22 de fevereiro de 1942, depois de ter redigido cartas de despedida aos amigos e às autoridades de Petrópolis - a cidade brasileira onde tinham encontrado asilo político -, Stefan Zweig e a esposa, Lotte, suicidaram-se com uma dose excessiva de barbitúricos. Apesar de todas as atenções estarem concentradas nos desenvolvimentos da Segunda Guerra Mundial, o suicídio do escritor suscitou uma enorme emoção nas tertúlias intelectuais, quer das nações aliadas, quer nas que sobreviviam clandestinamente sob o jugo dos ocupantes nazis.
O Brasil promoveu uma grande homenagem aos defuntos a pretexto do funeral, convertido numa vibrante cerimónia oficial.
A questão então mais frequente era a de se tentar compreender como é que um romancista tão famoso, cujos livros tinham merecido tanto sucesso junto de milhares de leitores em todo o mundo, cedera a tão irreversível apelo pelo vazio?
Sabe-se hoje que, ao contrário de muitos compatriotas, Zweig não vira com maus olhos o advento do nazismo, que prometia trazer «ordem e progresso» a países devastados pelas lutas sociais. Não é, pois, inteiramente crível a imagem convencional de Zweig ter tido sempre um comportamento exemplar na busca pela liberdade, mesmo se a crença na possibilidade de ser alcançada uma sociedade mais perfeita graças aos contributos da psicanálise e dos progressos técnicos, o aproximassem das ideias mais progressistas, as que pretendiam uma Europa mais desenvolvida e cosmopolita. Em vez de tomar partido contra o nazismo, como muitos dos seus devotados leitores teriam desejado, Zweig deixou-se distrair com a arqueologia das paixões amorosas, que integravam os temas dos seus livros.
Quando despertou para o ostracismo a que estava sujeito na própria terra natal, com piras de livros seus a alimentarem gigantescas fogueiras, Zweig sentiu-se incapaz de conter o medo que o passou a consumir intimamente. Até ao desenlace fatal já em espaço onde todos os julgariam a salvo das contingências de então. 

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