quinta-feira, novembro 23, 2017

(S) Celebrando a memória de Dmitri Hvorostovsky

O mundo da música lírica ficou ontem enlutado com a morte de Dmitri Hvorostovsky, que não resistiu ao cancro cerebral, de que se sabia acometido desde junho de 2015. Fizera 55 anos no mês passado e era tido como barítono de voz polida, dotado de um incrível controle de respiração e grande expressividade dramática.
Nascera em 1962 na cidade siberiana de Krasnoiarsk, filho único de um engenheiro e de uma ginecologista, demasiado ocupados para cuidarem-lhe da educação, que ficou entregue a uma das avós e ao bisavô, que se vangloriava de ser herói de guerra, mas que ele sempre consideraria inútil, arrogante e permanentemente bêbedo. Talvez tenha havido algo de hereditário para ele próprio ter dado cabo do primeiro casamento por causa da sua própria crise alcoólica, que o levou a cortar definitivamente com tal dependência em janeiro de 2001.
O desapego dos pais, que só via aos fins-de-semana, explica também a atração sentida pelo gangues de delinquentes, que imperavam na sua cidade, quando tinha 14 anos, aparecendo umas quantas vezes com o nariz partido devido às brigas em que se metia.
Em desespero de causa, o pai, grande melómano, vai matriculá-lo no Conservatório da cidade, confiando-o à educação da grande mestra Ekaterina Yoffel, que será a grande responsável pela forma como soube potenciar-lhe o talento.
Em 1986, quando concluiu os estudos a União Soviética entrara na fase da perestroika e as viagens ao estrangeiro estavam facilitadas. O jovem Dmitri concorre e ganha o Concours International de Chant em França, chamando a atenção para os críticos sempre atentos aos jovens com características para se virem a afirmar nos palcos internacionais dos teatros de ópera.
Hvorostovsky começa por sobressair nos papéis de Valentin no «Fausto» de Gounod, no Belcore do «Elixir do Amor» de Donizetti e no papel principal do «Don Giovanni» de Mozart. Mas ganhará fama de insuperável no desempenho de «Eugene Onegin» de Tchaikovsky.
Vendo-se-lhe os cabelos embranquecer totalmente nos trintas, especializa-se então em papéis verdianos, comparecendo amiúde no Metropolitan de Nova Iorque, onde atuará por cento e oitenta vezes em treze papéis diferentes desde 1995.
Já em tratamento as últimas atuações foram em Nova Iorque, contracenando com Anna Netrebko no «Il Trovatore»  no Met ainda em 2015 e aparecendo em maio deste ano, já inseguro nas pernas a cantar a ária «Cortigiano, vil razza dannata» do «Rigoletto» na gala  do 50º aniversário do Lincoln Center. De permeio ainda ganhara coragem para, em fevereiro de 2016, dar um recital no Carnegie Hall, entoando músicas russas, ele que ultimamente voltara a sentir um forte apelo das origens.
 

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