quinta-feira, novembro 23, 2017

(DIM) A importância de voltar à obra de Clouzot sem reservas mentais

Na Cinemateca de Paris está a decorrer uma retrospetiva da obra de Henri Georges Clouzot, complementada com uma exposição que se prolongará até julho de 2018.  Trata-se de uma oportunidade ímpar para recuperar um autor, que a geração dos «Cahiers» odiava, considerando-o paradigma do cinema clássico sem capacidade para sair dos padrões académicos. Mas a exposição desmente essa ilação, porque constata-se a sua sempiterna vontade de inovar, de procurar soluções estéticas diferentes, sobretudo quando se dedicou á fotografia.
Outras razões subsistiram para que fosse odiado, quase comparado a Hitchcock na forma como destratava atores e atrizes. Uma bofetada inesperada na face de uma pouco convincente intérprete levava-a a exceder-se, a vestir a personagem tal qual ele pretendia.
Perfecionista, buscava a forma ideal, aquela que o aproximasse da verdade absoluta, fosse lá o que isso para ele representava.  Ademais, pessimista angustiado e fetichista, teve grande prazer em satirizar a França do pós-guerra, sem deixar de manter vivo o permanente fascínio pelas facetas mais sombrias da alma humana.
Além de «Quai des Orfévres» ou «Le Salaire de la Peur», recordo-lhe sobretudo os excelentes documentários, que fez com Picasso («Le Mystère Picasso») ou com Karajan.
Razões mais do que bastantes para lhe revisitarmos a obra sem os filtros depreciativos dos que o queriam menosprezar para melhor imporem os princípios da «nouvelle vague». 

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