terça-feira, novembro 14, 2017

(EdH) Um general controverso na sua ação africana

A raiva que alguns inconformados com o fim do colonialismo continuam a alimentar nas redes sociais a propósito da excelente série de documentários do Prof. Fernando Rosas sobre a presença portuguesa em África ao longo do século XX. Custa-lhes muito reconhecê-lo, mas essa opressão das populações nativas caracterizava-se por segregação racial e pela imposição do trabalho forçado.
No terceiro episódio aborda-se a ação de Norton de Matos como governador-geral de Angola entre 1912 e 1915 e, depois, como Alto Comissário entre 1921 e 1924. Sobretudo nesta segunda comissão em terras africanas ele procurou descentralizar o poder colonial, tornando-o menos dependente de Lisboa, quer economicamente, quer no tocante à autonomia para tudo decidir.
Para o general republicano era evidente, que Portugal só poderia manter a posse das colónias se aumentasse significativamente a imigração de famílias de camponeses da Metrópole de forma a distribui-los pelos vastos territórios sob a sua governação. Para lhes dar condições de sucesso na adaptação às suas novas terras levou a cabo um acelerado investimento em novas infraestruturas, que se traduziram em novas estradas, linhas de caminho-de-ferro, portos e postos de radiotelegrafia.
Nas disposições quanto a esse povoamento, ele demonstrava-se adepto dos conceitos de segregação racial, que seriam em breve aplicados na África do Sul: condenando quaisquer tentações de cafrealização e de mestiçagem, distanciando prudentemente as aldeias habitadas pelos europeus dos povoados africanos.
E se a nível legislativo fez publicar sucessivos decretos, que deveriam garantir condições laborais minimamente justas para a mão-de-obra africana, depressa esses textos perderam qualquer relevância vigorando a regra de que o «trabalho era bom para o preto» até por conseguir transmitir-lhe por essa via as competências e os valores da civilização ocupante.
Em poucos anos Angola mudou tão drasticamente que, anos depois, quando visitou a colónia, o secretário de Estado Armindo Monteiro escreveu ao seu superior hierárquico, o ministro das Finanças Oliveira Salazar, que todas as estradas e outras obras públicas com cuja dimensão e qualidade o surpreendia datavam, efetivamente, dos períodos de gestão de Norton de Matos.
No entanto os propósitos descentralizadores do general confrontaram-se com os interesses dos banqueiros e de outros setores da economia para quem era mais rentável a subordinação total de Angola aos ditames de Lisboa. Por isso vão sabotar-lhe a ação de forma a que as finanças angolanas caiam em tal crise, que a demissão torna-se a única ´saída possível para Norton de matos, a seguir destacado para embaixador em Londres.
Embora contraditória a sua perspetiva política tanto teve de execrável, mormente quando proibiu e mandou fechar todas as associações e jornais, que revelassem alguma simpatia para com aspirações nacionalistas, Norton de Matos nunca deixou de se considerar um republicano antifascista e, por isso mesmo, viria a ser completamente posto à margem tão só se implantou a ditadura militar. Não admira que, quando a Oposição democrática quis encontrar um candidato de peso para concorrer contra o fantoche de Salazar, foi nele que depositou as suas esperanças. Para um combate, que se adivinhava perdido de início, tão distintas eram as forças ao serviço do salazarismo em comparação com as empenhadas em devolver aos portugueses o legítimo direito de escolherem livremente os seus dirigentes. 

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