domingo, novembro 19, 2017

(I) Acerto no diagnóstico, mas não na solução

A acumulação capitalista cria a sua própria representação, que tende a esmagar-nos - eis uma das principais conclusões a que chegou Guy Debord, quando analisou a forma como os explorados são mergulhados numa ideia irrealista da sociedade real vendo-se impotentes quanto á espoliação das mais-valias do seu labor.
Ao contrário do tipo de exploração feudal ou esclavagista os detentores dos meios de produção sabem que têm de contar com os tempos livres dos que pretendem continuar a explorar. Daí a importância de os alienar, de lhes transmitir conteúdos nos jornais, nas televisões, nos suportes publicitários espalhados por todo o lado, que os levem a não questionar a justiça com que são distribuídos os rendimentos porque importa sobretudo alcançar os bastantes para usufruir dos bens de consumo - quantas vezes supérfluos, mas apresentados como imprescindíveis! - com que se veem continuamente bombardeados.
Para sujeitar os explorados a essa apatia, que os leve a nada questionar, também se transformou o desporto num exemplar jogo de compra e venda de mercadorias, com os jogadores de futebol a serem como tal transacionados, entre o fascínio beatífico da maioria e a indignação impotente de uns quantos, que tomam essa realidade como uma eficiente estratégia do capital para manter e aumentar a sua influência.
Se o pensamento de Debord merece reservas é que se fica pelo diagnóstico certeiro sem dar resposta consequente à forma de o alterar. Porque acreditando no despertar individual como forma de conseguir, a partir dele, a necessária consciência transformadora é algo de ilusório. Enquanto outras estratégias não se mostrarem mais proveitosas não há como utilizar as que passam pela militância ativa em partidos e movimentos apostados em virar do avesso esta forma de gerir a economia coletiva em que uns têm quase tudo e aos outros poucas migalhas restam...

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