quarta-feira, novembro 22, 2017

(EdH) O falso ícone excessivamente publicitado por quem deveria tê-lo reduzido à sua efetiva dimensão

Nunca pude compreender o fascínio, que Charles Manson suscitou no imaginário norte-americano desde que foi preso por assassinar Sharon Tate e os convidados da sua festa de 8 de agosto de 1969.
Apesar de todo o horror relacionado com tais homicídios, eles mais não são do que um dos muitos exemplos da psicopatia coletiva, que grassa na sociedade norte-americana. e traduzida atualmente na defesa intransigente da posse de armas, mesmo que elas continuem a causar anualmente muitos milhares de vítimas.
Transformar um torpe crápula num ídolo pop, e até dá-lo como coveiro da cultura dos anos 60, é um tipo de narrativa, que pode entusiasmar gente irresponsável, mas inaceitável para quem queira olhar para aquela época com alguma dose de sensatez.
É claro que a autodesignada contracultura estava condenada a embater no beco sem saída para que investira aceleradamente graças a overdoses de LSD e outras drogas sintéticas, que prometiam estados alterados da mente, mas conduziam invariavelmente ao cemitério.
Uma Revolução comporta sempre um modelo de Utopia, mas a mística do sexo, drogas e rock ‘n rol só prometia efémeras trips vividas individualmente sem que nada decorresse do ponto de vista coletivo. E, numa altura, em que os norte-americanos conheciam sucessivos insucessos na Guerra do Vietname era demasiado tentadora a possibilidade de se convencer a nação de haver uma relação causa-efeito entre a «degradação dos valores e dos costumes» e a decadência da força bruta imperialista.
O caldo de cultura para as derivas ultraconservadores das décadas seguintes (com Reagan, Bush pai, Bush filho e, agora, Trump) criou-se então. Sem que Manson ou as suas concubinas tivessem contribuído com prego ou com estopa.
Quando Sharon Tate foi brutalmente assassinada, Otis Redding já morrera e, sucessivamente, alguns dos nomes maiores da gesta psicadélica - Jimi Hendrix, janis Joplin, Jim Morrisson - seguir-lhe-iam os passos, levados por previsíveis overdoses. E essas mortes, sim, serviram de dobre de finados por uma época que nunca mais se dissociou das muitas lendas com que se viu colorida. Mesmo que a maioria delas nada tivesse a ver com a verdade dos factos. 

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