domingo, novembro 12, 2017

(DL) Estoril como ninho de espiões

Durante a Segunda Guerra Mundial o Hotel Palace do Estoril era dos sítios mais interessantes para se frequentar. Quando, nos anos 80, passou por uma renovação e ampliação, encontraram-se milhares de quilómetros de cabos escondidos por baixo dos tapetes, atrás dos rodapés e do papel de parede no que constituiu uma reminiscência do que eram os sistemas de escuta desse passado glamouroso, quase alheio ao que se passava por essa Europa fora, E o quase tem a ver com o facto de ali se hospedarem os milionários, que tinham conseguido fugir ao cerco nazi, livrando-se do destino terrível dos muitos milhões eliminados nas câmaras de extermínio.
Autêntica Riviera à portuguesa, o Palace - que é o verdadeiro protagonista do romance de Dejan Tiago Stankovic - albergava gente de grande prestígio como o eram os Habsburgos, os Rotchshild ou escritores da estirpe de Maeterlink ou Heinrich Mann. Mas também espiões, pois foi ali mesmo que Ian Fleming encontrou em Dusko Popov o modelo para o seu James Bond.
Ninho de espiões, o Palace contava entre os seus frequentadores habituais o inspetor Cardoso da PVDE, que procurava detetar comportamentos suspeitos de muitos dos que ali tinham chegado graças aos vistos emitidos por Aristides de Sousa Mendes em Bordéus.
Há também casos pungentes como o de Gavriel Franklin, um miúdo de dez anos, ali chegado sozinho e disposto a esperar o que fosse preciso até que os pais, circunscritos ao território francês, se pudessem juntar-se-lhe.
Produto de um árduo trabalho de investigação numa profusa documentação, boa parte da qual inédita, o romance do escritor e tradutor sérvio, dá uma ideia muito aprofundada do que foram esses tempos difíceis condicionados por um fariseu mesquinho armado em ditador.

Sem comentários: