quarta-feira, novembro 29, 2017

(DIM) «O Piano» de Jane Campion

Há duas dúzias de anos, os nossos olhos e ouvidos de cinéfilos encantaram-se com um filme de Jane Campion, que nos pareceu bem melhor do que, passados tantos anos, o recordamos.
Em «O Piano» recuávamos até ao século XIX, quando Ada e a filha, Flora, desembarcavam numa praia neozelandesa para que se consumasse o casamento por procuração entre ela e um rico fazendeiro, Stewart.
Muda não se sabe desde quando, Ada virá a ter no estranho vizinho, George Baines, o prestimoso voluntário para que o piano que a acompanhara, entretanto deixado ao abandono na praia, lhe chegasse a casa. Mas sentindo a paixão com que ela interpreta tão bela música, ele transfere o instrumento para a sua própria casa, desafiando Ada a ensinar-lhe como deve tocá-lo. Inicia-se assim uma chantagem erótica, que acaba por se revelar bem mais consensual do que os bons costumes da época recomendariam…
O piano acaba por ser a voz e o corpo de Ada na sua revolta perante o asfixiante microcosmos puritano em que se veio integrar. A música e o correspondente despertar da sensualidade resgatá-la-ão do mutismo, sendo antológica a cena em que Baines lhe explora a pele poro a poro como se se tratasse de um delicado teclado de piano.
A amputação do dedo de Ada pelo vingativo Stewart, destrói-lhe a vontade de viver, como se de uma castração se tratasse. Nessa altura já o espectador está rendido à ambiência proposta pela realizadora, que conseguia aliciar o grande público para uma história empática, suscitadora de irreprimíveis emoções.

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