quinta-feira, novembro 16, 2017

(S) Jonas Kaufmann entre Itália e o universo wagneriano

É possível que, aos 48 anos, Jonas Kaufmann não se mantenha durante muito mais tempo no restrito lote dos grandes tenores atuais. É que, nos últimos cinco anos, não têm sido raros os concertos anulados, quer por razões que se prendem com lesões nas suas cordas vocais, quer com a intenção de as poupar aos efeitos de uma exagerada presença em palco. Mas, vendo-o a atuar no Teatro Carmignano em Turim, com um reportório constituído inteiramente de árias italianas, é inevitável admirarmo-nos com a facilidade com que vai dos graves aos agudos e se atarda amplamente nestes, sem aparente esforço e até mostrando os recursos dramáticos, que lhe deram particular prestígio.
Nascido numa família de melómanos da burguesia bávara, Jonas Kaufmann desde muito cedo começou a conhecer a Itália como espaço ideal para as férias na praia ou na descoberta das suas cidadezinhas históricas do interior. Seguindo o exemplo de Goethe, e sem dele ignorar os aspetos mais sombrios, o grande país transalpino tornou-se-lhe sinónimo de uma espécie de «paraíso perdido» a que sempre gosta de voltar.
Em miúdo integrou coros infantis, chegando a solista quando já estava na escola secundária. Embora tentasse a matemática foi a voz que se lhe afigurou como argumento incontornável para dela fazer meio de vida. A maior influência foi-a buscar a uma enormíssimo tenor Fritz Wunderlich - precocemente desaparecido em 1972 -, que considerava imprescindível transmitir as emoções aos espectadores, que o escutassem. Daí que, tomando-o como exemplo, Jonas Kaufmann valorize bastante a expressão teatral das suas interpretações. Estas tanto se orientam para a grande ópera italiana dos finais do século XIX como para o reportório wagneriano: num dos seus mais saudados regressos, após uma das suas inquietantes pausas, maravilhou quem o viu e ouviu num «Lohengrin» dirigido por Daniel Barenboim.
Num documentário intitulado «My Italy» ele atribui à música o bilhete de passagem para sentimentos nostálgicos, que não excluem os pequenos prazeres dos momentos mágicos atuais.

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