sábado, novembro 11, 2017

(DIM) Coisas a ver (I): Primeira Guerra Mundial e perturbadores endócrinos

1. Em 2012 uma equipa de arqueólogos investigou os vestígios de uma grande batalha ocorrida em Messines, na Bélgica, entre 1914 e 1917. Recorrendo ás cartas militares da época andaram a escavar na terra lamacenta durante oito meses, sempre na expetativa de poderem detonar alguma das bombas aí soterradas e de que se calcula restarem 30% por explodir.
É esse o tema do documentário britânico «A Grande Guerra, os Túneis e a Morte» de John Hayes Fischer (2012), rodado com o apoio científico de uma equipa de antigos militares especializados em operações de desminagem com recurso a escavadoras blindadas.
Como corolário de tal trabalho descobriram-se trincheiras da Primeira Grande Guerra bastante bem conservadas e, como tal, preciosas, para os historiadores dedicados a essa época.
Na segunda parte aborda-se a guerra subterrânea entre britânicos e alemães nesses campos de Messines, quando nem uns, nem outros, conseguiam romper as defesas inimigas. A alternativa era a colocação de minas tão próximas quanto possível do outro lado das trincheiras, depois de as escavar arduamente nessa direção. Foi num desses corredores, que os Aliados causaram uma enorme explosão em 7 de junho de 1917, que se saldou por dez mil vitimas do lado alemão. O desiderato da Guerra começou então a pender definitivamente para o lado dos seus efetivos vencedores.
2. Oito anos depois de «Machos em Perigo», que denunciava o impacto dos perturbadores endócrinos na fertilidade humana, Sylvie Gilman et Thierry de Lestrade voltam a fazer soar os alarmes relativamente aos efeitos nocivos dos agentes poluentes na nossa inteligência e saúde mental. Em «Amanhã seremos todos cretinos?» dão a palavra a cientistas de renome, como Barbara Demeneix, especialista na tiroide, ou Arlene Bloom que, desde aos anos 70, combate o recurso a retardadores de ignição utilizados profusamente na indústria dos plásticos, dos têxteis e dos equipamentos elétricos ou eletrónicos para os tornarem menos inflamáveis. Neste caso específico ela tem-se confrontado com a oposição dos lobbies, que não querem a divulgação da dimensão efetiva do problema.
Os riscos apontados no documentário são os de dar razão à distopia criada em 2006 por Mike Judge em «Idiocracy», em que se imaginava a progressiva imbecilidade da espécie humana. De facto, remonta há vinte anos a constatação científica da diminuição das capacidades humanas a nível da inteligência com um abaixamento do QI em vários países ocidentais. A esses dados acrescenta-se o aumento dos casos de autismo e de perturbações comportamentais.
Estão em causa os perturbadores endócrinos, que são moléculas químicas, que afetam o funcionamento da tiroide, órgão fundamental no desenvolvimento cerebral do cérebro. Nos pesticidas, nos cosméticos ou nos plásticos essas partículas estão omnipresentes à nossa volta: movimentamo-nos numa autêntica sopa química. Daí a urgência em encontrar soluções para que se preservem os cérebros das gerações futuras.
Barbara Demeneix, uma das cientistas aqui ouvidas, confirma que obteve resultados laboratoriais  inquietantes quanto à dimensão da alteração de alguns desses compostos químicos no funcionamento da tiroide. Por isso alerta para os perigos de grávidas no início da gestação se sujeitarem a ambientes em que tiverem sido utilizados pesticidas, porque as crianças em causa poderão a ter sintomas autistas ou outras dificuldades de concentração. Mas mesmo nos adultos, essas perturbações hormonais poderão incrementar os casos de depressão, perdas de memória ou doenças neurodegenerativas.
Entre os comportamentos recomendados pelos cientistas estão a preferência pelos produtos biológicos, a rejeição do uso de recipientes de plástico no micro-ondas ou consumir sal iodado, que é indispensável para fabricar hormonas tiroidianas.  Mas exigem sobretudo regulamentação europeia, que proteja a saúde pública e a biodiversidade. Nesta altura está a decorrer um importante debate sobre o assunto na Comissão Europeia. 

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