domingo, novembro 05, 2017

(I) Quando se biografa para denegrir a personalidade que se estuda

Marx nasceu há duzentos anos e o seu pensamento continua a exercer um inabalável fascínio nos tempos atuais por muito que um dos seus mais recentes biógrafos, Jonathan Sperber, conteste esta tese, por entendê-lo homem oitocentista, bem mais próximo de Robespierre do que dos comunistas do século XX.
O pai, Heinrich, era um burguês muito atento à experiência revolucionária francesa sendo comum entoar cantos progressistas nas tertúlias, que frequentava com os amigos. Na escola o adolescente Karl escolhe o conhecimento do grego, do latim e do francês, correspondendo à evidente francofilia do pai, que desejava para ele uma carreira de advogado. Não o seria, porque as ideias políticas não lhe franqueariam passagem para lecionar na  Universidade.
Karl Marx e a família seriam obrigados a acolher-se ao exílio francês embora rejeitando a ideia de se converter num revolucionário profissional: mais do que a militância, interessava-o a disponibilidade para ler, pensar e escrever textos publicáveis em jornais e revistas de forma a servirem de estímulo para a transformação progressista. Neles evidencia a postura exageradamente eurocêntrica, que impediria a interpretação dos sinais oriundos de fontes distintas das habituais exegeses colonialistas. Nalgumas situações Marx até se insurgiria a favor das revoltas indígenas contra os ocupantes europeus por as entender um obstáculo para o desenvolvimento do capitalismo, atrasando assim a Revolução mundial.
A recessão económica de 1857 levou Marx a vacilar na tese de ser necessária a exploração de todo o potencial do capitalismo para que emerjisse a utopia comunista. A crise agudizava-se em tal dimensão, que a superação da fase histórica em que se localizava parecia iminente. Mas logo a situação se normalizou levando-o a olhar com outro distanciamento as futuras crises a que, até à morte, assistiria. O desenvolvimento e consolidação do proletariado animava-o, porém, porque o via como semelhante ao «espírito absoluto» formulado por Hegel e confiava em todo o seu potencial.

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