domingo, novembro 12, 2017

(DIM) Coisas a ver (II): Emma Thompson e os tempos de Howard’s End

Anuncia-se para breve uma nova adaptação do «Rei Lear» pela BBC com Anthony Hopkins e Emma Thompson. A expectativa será imensa porque, embora conhecendo-lhe excelentes adaptações, quer em teatro, quer em cinema (nunca esquecerei a noite mágica em que a vi representada por uma companhia georgiana no Teatro de Dionísio ali ao lado do Parténon!), nunca é demais voltar a uma das obras mais notáveis de entre as que se atribuem ao misterioso dramaturgo de Stratford-upon-Avon.
Para Emma Thompson será também a oportunidade de a vermos recuperar da má imagem colhida nos últimos anos, quando a soubémos comprometida com projetos - que decerto lhe deram bons rendimentos - mas esbanjaram a arte nela constatada quando entrou no nosso universo cinéfilo no início dos anos 90.
«Os múltiplos rostos de Emma Thompson», documentário de Sabine Lidl, talvez nos ajude a perceber como as tão elevadas promessas, então sugeridas, se traduziram depois em coisas  incompreensíveis.
A realizadora alemã qualifica-a de cáustica, espiritual, luminosa, sempre fiel a si mesma e recorda-lhe a quarentena de filmes em que contracenou com os mais mediáticos atores e atrizes das décadas mais recentes.
Nascida numa família de atores, ainda estudava em Cambridge, quando começou a participar nos espetáculos da Footlights, uma importante companhia de teatro amador. Na altura o talento parecia dispô-la para a comédia - e por isso viria a ter mais tarde uma sitcom com o seu próprio nome - mas «Regresso a Howard’s End» confirmar-lhe-ia o ecletismo do talento, premiado com o Óscar de 1993. Mas não seria apenas como atriz, que a incensariam: três anos depois era recompensada pelo argumento e adaptação cinematográfica de «Sensibilidade e Bom Senso».
Mas, se dela nos queremos lembrar por um desempenho, que nos não voltou a sair da memória é para o filme de James Ivory, datado de 1991. Passava-se em Londres no início do século XX, quando as assertivas Margaret e Helen Schliegel travavam conhecimento com os ricos Wilcox, não indo muito longe o namoro de uma delas com Paul, o primogénito do clã. Mas a outra irmã Schliegel, Margaret tornar-se-ia muito amiga de Ruth Wilcox que, ao morrer, lhe legaria a mansão de Howard’s End. 
O escândalo da inesperada revelação levaria os Wilcox a destruirem o testamento. Por essa altura as duas irmãs conheceriam o poeta Leonard Blast, oriundo das classes populares, mas casado...
Após já ter adaptado «Quarto com Vista para a Cidade» em 1986 e «Maurice» em 1987, James Ivory concretizava aqui a terceira abordagem da obra de E.M. Forster, servindo-se dela para complexificar os sentimentos amorosos com as clivagens sociais de um contexto em que a sociedade hierarquizada inglesa estava a reformatar-se.
O que muito nos fez gostar do filme foi a elegância da narrativa povoada de elipses, os detalhes investidos no décor e o notabilíssimo trabalho dos atores. Sobretudo Anthony Hopkins e Emma Thompson. Ora aí está...

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