segunda-feira, novembro 06, 2017

(EdH) Um impériozinho torpe e miserável

Que privilégio o de termos semanalmente as lições da História do Colonialismo português dadas por Fernando Rosas! Aqueles que andaram anos a fio a papar as elucubrações mirabolantes de  um ministro salazarista a quem a televisão pública do pós-25 de abril andou a facultar direito de antena deveriam agora compreender a diferença entre aprender historias da carochinha com a presente explanação fundamentada e, sobretudo, muito bem estruturada do que foi o ignóbil Império português. Porque importa recordar como, com o seu Ato Colonial, datado de 1930, o então ministro das Colónias, Oliveira Salazar, legitimou a prática do trabalho forçado, mero eufemismo para o que realmente significava: escravatura.
Havendo tantos portugueses, que viveram a experiência das guerras em África, será bom que se consolide a ideia deles terem sido mera carne para canhão dos interesses das grandes companhias, que ali exploravam os recursos naturais, sem qualquer escrúpulo quanto ao sofrimento a que submetiam as populações nativas.
O colonialismo português foi causa de crimes, que nunca poderão ser remidos. De nada servem as  grandes cerimónias públicas em que os descendentes dos que cometeram tais vilanias pedem perdão pelos pecados dos antepassados, Mas podem-se compreender melhor as razões porque surgiram e ganharam força crescente os movimentos de libertação, quando os camponeses da Baixa do Cassange se revoltaram no início de 1961. Dado que as companhias algodoeiras só lhes permitiam cultivar as plantas em que estavam interessadas, sem lhes dar sequer a liberdade de semearem as que os costumavam alimentar naquelas terras, como poderíamos admirar-nos que, logo a seguir, todo o norte angolano ficasse a ferro e fogo e as atrocidades sobre os brancos replicassem as cometidas meses antes naquela sufocada manifestação de indignação?
No episódio dedicado ao “Império de Salazar” Fernando Rosas também é explicito quanto à irracionalidade das pautas alfandegárias, que impunham importações e exportações exclusivas entre a Metrópole e as colónias, mesmo que isso implicasse o pagamento irrisório das matérias-primas  (e de quem as extraia ou plantava) e o custo indecoroso de produtos manufacturados destinados aos «pretos».
Passados quase cinquenta anos sobre a morte do sinistro ditador só espanta como ainda ande por aí muita gente a admirá-lo, a dele sentir saudades. É que, apesar de estar então nos meus verdes anos, não esqueço a ambiência asfixiante do salazarento fascismo...

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