segunda-feira, novembro 06, 2017

(DL) A ordem do dia, que é afinal intemporal

Todos os anos o universo literário francês agita-se nesta época por causa dos prémios de maior significado, capazes de alavancarem significativamente o volume de vendas dos que com eles são contemplados.
O mais prestigiado é o Goncourt e coube desta vez a Éric Vuillard com um pequeno, mas denso, romance de 150 páginas, que cobre a história alemã entre 1933 e 1938: «L’ ordre du jour». Começa com os principais chefes de empresas da época  a serem convocados por Krupp para aprovarem o financiamento dos falidos cofres do partido nazi de forma a possibilitar-lhe a vitória eleitoral e, assim, compromete-lo na satisfação dos seus cúpidos interesses. E conclui-se com a anexação da Áustria, quando o cenário de guerra mundial tornava-se inevitável.
O romance de Vuillard tem a ver com a falta de ética de um grupo de empresários apenas focalizados no interesse de ainda enriquecerem mais do que já haviam conseguido. E a surpresa tem a ver com o facto de muitas das marcas e insígnias presentes nessa celerada reunião continuarem a ser reconhecidas como das principais na atual economia germânica.
O reconhecimento do talento expresso neste livro também inclui a necessidade de recuperar a literatura para a sua função de denunciadora das malfeitorias cometidas pelos senhores do dinheiro que, décadas depois, continuam a agir exatamente como os seus antecessores de 1933 apoiando os assustadores movimentos e partidos de extrema-direita como alternativa aos que defendem um mundo mais justo. 

Sem comentários: