quinta-feira, novembro 09, 2017

(DL) O escritor das paisagens da Scania

Quando se trata de escolher um autor de romances policiais do meu agrado, Henning Menkell destaca-se dos muitos outros, cujas intrincadas estórias me têm suscitado tanto prazer na respetiva leitura. E que são tantos, de Dashiell Hammett a Manuel Vasquez Montalban, de Georges Simenon a Andrea Camillieri, ou de Raymond Chandler a Fred Vargas.
E na bibliografia de Mankell prefiro os que têm por protagonista o inspetor Kurt Wallander, cujas feições se passaram a ajustar às de Kenneth Branagh desde que o ator irlandês o protagonizou nos episódios de uma excelente série televisiva.
Quase todos os casos descritos nos romances com Wallander são passados na ponta sul da Suécia, nessa província de Scania, que constitui o celeiro do país e onde são famosos os muito frequentados percursos para caminhadas. Ao contrário do que pressupõe o romance o crime costuma ser muito raro por essas bandas: em média só ocorre um homicídio de sete em sete anos. Mas, se se ativesse a tal realidade, nunca Menkell teria conseguido matéria para ali situar doze romances que, traduzidos por todo o mundo, alcançaram um total de vendas de mais de 40 milhões de exemplares.
A esquadra, que serve de sede a Wallander fica em Ystad, cujo centro histórico remonta ao século XVII e conta com um lindíssimo teatro de ópera, que o detetive, esforçado melómano, frequenta com prazer. E há o porto donde partem ferries para Copenhaga, Riga e algumas cidades polacas. Mas é à volta na cidade, no raio de vinte quilómetros, que muitos dos crimes investigados por Wallander ocorrem como aquele, inesquecível, em que uma rapariga se incinera num campo amarelo de colza.
Noutros casos Wallander vai mais longe: até Kaseberg, que é um velho porto de pesca com alinhamentos megalíticos à vista do Báltico. Trata-se de lugar tão belo, que ali se recolhe o detetive em imperscrutáveis pensamentos, quando se sente incapaz de resolver os íntimos impasses.
Há também Malmo, a sua cidade natal, onde crescera e se tornara polícia, antes de se candidatar ao cargo na pequena cidade vizinha. Quando tem mistérios por resolver nesta cidade eles andam de mão dada com a gentrificação ai verificada.
Tendo falecido em 2015, Mankell já nos não proporcionará novas histórias, mas continua a entusiasmar-nos pela capacidade de captar os medos e os tentar compensar com as belezas escondidas nas suas passagens planas.



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