Pier Paolo Pasolini sentia-se um proscrito quando, em 1950, chegou a Roma, acompanhado pela mãe. Tinha 28 anos e vinha da sua região natal, situada no Norte da Itália, para escapar a um escândalo relacionado com a descoberta da sua homossexualidade.
Nos vinte cinco anos seguintes - até ser assassinado numa praia perto de Óstia - foi na capital que viveu e trabalhou, forjando a sua obra a partir dos rostos, das paisagens e do sotaque dos subúrbios. Eles logo surgiram nos primeiros romances (Ragazzi di vita de 1955 ou Una vita violenta de 1959) e filmes (Accatone de 1961, Mamma Roma de 1962 ou Uccellacci e uccellini de 1966). Para Pasolini a Cidade Eterna representou sempre um campo de estudo e de reflexão.
O realizador deste documentário foi um dos comissários da excelente exposição Pasolini-Roma e por isso mesmo um conhecedor aprofundado desse artista e intelectual comprometido, que sempre alimentou uma relação apaixonada quer com Roma quer com quem a habitava. Mesmo que, nos seus derradeiros anos de vida, Pasolini a tenha temperado com a amargura de quem viu desaparecer a cultura popular em que tanto se inspirara. Doía-lhe que a autenticidade de quem vivia nos arrabaldes fosse aniquilada pelos piores efeitos de uma sociedade de consumo sem alma.
O documentário mistura imagens de arquivo com extratos de filmes, sequências rodadas nos locais onde tinham ocorrido filmagens, fotografias, citações e entrevistas com quem alguns dos que conheceram e colaboraram com Pasolini (Bertolucci, Ninetto Davoli).
Alain Bergala demonstra bem como o pensamento e o talento de Pasolini ainda permanecem profundamente atuais.
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