As últimas obras de Urbano Tavares Rodrigues têm de ser vistas sempre na sua lógica testamentária. Falecido em 2013, já há várias anos, que o escritor se encontrava remetido a sua casa, demasiado fragilizado na saúde para que sequer pudesse comparecer às muitas sessões cívicas e de homenagem para que nunca deixou de ser convidado. No entanto, esse enclausuramento forçado não afetaram em nada a sua lucidez e até ao fim nunca deixou de evidenciar uma consciência apurada da forma como a História do mundo se ia continuando a escrever.
Publicado em 2008, «A Última Colina» integra um conjunto de textos, que evocam toda a sua experiência de luta em prol de um mundo mais justo, que a evolução subsequente à queda do muro de Berlim pareceu dificultar. Ainda assim ele confiava que este momento histórico só demonstrava a fiabilidade da célebre fórmula enunciada por Lenine em como a luta dos povos é feita de dois saltos em frente e um à retaguarda.
Vai-nos cabendo viver precisamente este longo intervalo em que, após memoráveis conquistas capazes de fazerem sonhar quem antevia a iminência da Utopia, andamos com a noção atarantada de quem volta a acordar em cada dia para uma sociedade onde os muito ricos vão gananciosamente aumentando os seus bens à custa da miséria e do sofrimento de um número cada vez maior de pobres.
Sem comentários:
Enviar um comentário