A chegada à reforma deu-me o privilégio de reduzir drasticamente a velocidade, que imprimia ao meus dias, sobretudo nos dos anos mais recentes. Essa sensação de aceleração foi tornando-se cada vez mais evidente à medida, que novas ferramentas iam aparecendo para “facilitar” o trabalho.
A primeira vez que me coloquei face a um computador, sem ser na lógica da “modernaça” máquina de jogos chamada Spectrum, não imaginava quanto viria a ter o meu quotidiano laboral condicionado por ele. Primeiro enquanto programas de manutenção e de organização de stocks dos navios onde ia navegando, depois - já transformado em “marinheiro que perdera as graças do mar” - nos que me possibilitavam a gestão da empresa, pela qual garantia a operacionalidade de diversos centros comerciais, fábricas e lojas por todo o país. Fui assim sentindo quanto a agenda se ia preenchendo com um número cada vez maior de compromissos traduzidos em muitos milhares de quilómetros de estrada ao longo do ano e de muitas noites e fins-de-semanas interrompidos com telefonemas vindos das centenas de possibilidades donde eles diariamente poderiam provir.
Por isso mesmo a chegada à reforma significou uma inversão total no stress a que então era coagido.
Que grata satisfação a de puxar os lençóis depois de apagada a luz sem o risco de ouvir o toque do telemóvel passadas duas ou três horas. «Engenheiro, temos uma inundação!», «Engenheiro, tivemos um curto-circuito no quadro principal!», «Engenheiro, o Alberto sentiu-se mal e foi de ambulância para o hospital!», … e de cada vez era necessário saltar da cama e devorar mais quilómetros para chegar ao sítio da emergência ou telefonar a uns quantos encarregados ou subempreiteiros para serem parte da solução.
O documentário «Speed» de Florian Opitz fala de tudo isso: estamos num mundo tão interligado e em que tudo ocorre a tal velocidade, que andamos permanentemente a sentir a falta de tempo.
Gastamos os dias a «ganhar tempo», com a sensação desconfortável de o termos cada vez menos. Os nossos gadgets eletrónicos fazem-nos andar feitos baratas tontas de uma reunião para outra. E o resultado é ver quanto vão ficando de lado as coisas que mais nos deveriam importar: a família, os amigos, as vivências capazes de nos enriquecerem e a lista poderia prosseguir, interminável.
Quem é que está a carregar no acelerador, que nos leva a tal alvoroço?
Florian Opitz adota uma perspetiva subjetiva e sarcástica para abordar essa aceleração do quotidiano, acabando por nos divertir com inteligência.
Vai ao encontro de especialistas da gestão do tempo e da dependência cibernética, terapeutas e cientistas, que nos tentam explicar as causas e as consequências dessa falta de tempo crónica, consultores de empresas e especialistas nos mercados financeiros.
Ficamos a conhecer quer os que pressionam para ainda acelerar mais e os que se recusam à escravidão dessa corrida frenética redescobrindo os benefícios da lentidão. Aquela que eu ando agora a usufruir com inaudito gozo!
Um documentário que vale bem a pena ver!
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