O mais influente dos repórteres alemães das últimas décadas é Günter Wallraff, cujos trabalhos de investigação sobre os mais variados assuntos da atualidade sempre suscitaram merecido reconhecimento, nomeadamente um que realizou nos anos subsequentes à Revolução de Abril e lhe permitiram revelar a natureza criminosa do MDLP, então liderado por Spínola.
Claus Kleber não alcançou o prestígio do seu colega, nem lhe imitou o método (infiltrar-se num ambiente para melhor denunciar quem nele ganha rendimentos ilícitos!), mas tem-se notabilizado em reportagens igualmente interessantes, que valem a pena ser conhecidas.
Em dois documentários recentemente estreados -«Porquê a Fome?» e «Porquê a Sede?» ele equaciona até que ponto será possível erradicar a fome e a sede a nível mundial. Para tal viajou pelos diversos continentes e entrevistou diversas pessoas, que simbolizam as vítimas ou os algozes de uma injustiça, que urge ser corrigida durante este século. Porque se os recursos mundiais do planeta fossem melhor geridos nenhuma criança morreria de fome ou de sede!
Kleber lança a questão: porque é que os recursos alimentares, na realidade muito abundantes, nunca chegam a todos quantos deles precisam? Como impedir que as matérias-primas e a água potável se tornem mercadorias negociadas por especuladores e estejam na origem de tantos conflitos (o caso dos recursos hídricos quase todos concentrados nas zonas ocupadas por Israel depois de 1967 e que explicam porque Telavive se escusa a devolvê-las num processo de paz, que não deseja sequer iniciar!)
Poder-se-á tirar melhor partido das terras e dos mares sem os esgotarmos?
Em 2050 a Terra contará dez mil milhões de habitantes. Por isso mesmo será impossível ignorar a questão alimentar, já que o crescimento populacional evolui três vezes mais depressa que o da produção agrícola.
Numa das cenas mais terríveis destes documentários vemos o caso de uma família indiana onde a filha mais nova, de apenas um ano e meio, está chocantemente subnutrida. A equipa de filmagens trata de lhe garantir apoio médico e alimentação conveniente durante algumas semanas, de forma a vê-la despontar para o que espera vir a ser um futuro viável. No entanto, semanas depois, quando por ali volta a passar, a miúda já não existe...
Há quem apresente soluções variadas, desde as propiciadas pela genética até às que querem transformar África numa gigantesca quinta destinada a alimentar o planeta. E, no entanto, a solução mais evidente passaria por distribuir de forma mais racional a produção atual de forma a evitar as consequências da sua gestão pouco escrupulosa: anualmente perdem-se milhares de toneladas de cereais armazenados apenas no fito de lhes fazer subir o preço nas bolsas financeiras.
A melhoria da qualidade de vida em numerosos países industrializados a começar pela China não facilita a tarefa, porque traduz-se num aumento significativo do consumo da carne, um alimento dispendioso em consumo de água e de terras.
Kleber contacta com as populações mais afetadas pela penúria de alimentos ou de água para melhor alertar para a crise que se anuncia, interrogando-se sobre a responsabilidade dos Estados, dos políticos, das empresas e dos cientistas.
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