Através de uma investigação, que envolve a subcontratação de outro detetive (o “Morcego”) Ushikawa consegue confirmar a ligação de Aomame com a viúva Ogata, mas “naquela fase ainda não podia dar-se ao luxo de informar a Vanguarda. Contudo, Ushikawa sabia que estava na pista certa. Notava pelo cheiro. Percebia pela textura. Todos os elementos apontavam na mesma direção. Por algum motivo, que se prendia com a violência exercida pelos homens sobre as mulheres, a velha senhora dera instruções a Aomame no sentido de assassinar o Líder e, depois, tudo fizera para a ajudar a esconder-se num lugar seguro. A documentação reunida pelo Morcego confirmava indiretamente a sua teoria.” (pág. 131)
Mas a maior novidade, que Ushikawa consegue obter é a de que, em crianças, Tengo e Aomame haviam frequentado a mesma escola. Por isso mesmo investiga e confirma os percursos comuns de ambos na escola primária da prefeitura de Chiba e orienta-se para o que virá a seguir: “Nos tempos mais próximos, vou limitar-me a observar os movimentos de Tengo Kawana. Estou convencido de que me conduzirão a algum lado. Com sorte, até ao esconderijo de Aomame. Ushikawa era especialista em agarrar-se a uma coisa, como a rémora ao tubarão, para nunca mais a largar. Quando cismava numa coisa, ninguém o convencia do contrário”. (pág. 192)
No entretanto, Murakami informa-nos que Ushikawa fora um advogado, que trabalhara para yakusas e fora por isso preso e expulso da profissão. Perdera então a família e regressara à estaca zero donde partira inicialmente para a vida adulta. E é nisso que pensa durante as longas horas em que, no rés-do-chão do prédio de apartamentos onde Tengo mora, o espreita nas suas entradas e saídas.
Não longe dali, Aomame anda assombrada por sonhos inquietantes, como nunca os conhecera anteriormente. E o cobrador da NHK volta a incomodá-la pondo-se do outro lado da porta do apartamento a ofendê-la por não querer pagar a taxa da televisão. Mas o mais perturbador é sentir-se grávida sem que tivesse tido sexo com alguém em concreto, que o justificasse: trata-se de uma “nina”, que está a crescer dentro dela.
Não tarda que testes o confirmem e tudo aponta para a conceção na noite em que matara o Líder da Vanguarda. Sem saber porquê ela adivinha que a paternidade da criança será de Tengo. Ora, recordemos que nessa mesma noite ele vira-se coagido por uma Fuka-eri em transe a ejacular dentro dela.
Estamos, pois, numa daquelas inverosimilhanças que tanto agradam a Murakami: Aomame engravidara de Tengo pelo interposto corpo da autora do romance «A Crisálida de Ar».
Por ora Aomame vive dias difíceis por ter muitas mais dúvidas que certezas. Em 1Q84 a lógica e o saber parecem não ter grande cabimento. “Mesmo assim, acreditava que sobreviveria, nem que fosse durante meia dúzia de meses, até chegar a hora de dar á luz. Era apenas um pressentimento bastante forte, que tinha a força de uma convicção. Tudo parecia avançar nesse sentido. Percebia que assim era. (pág.244)
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