Os romances de Haruki Murakami obrigam o leitor a, muitas vezes, sair da sua lógica racional e a aceitar a de outras possibilidades de encarar a realidade, como se chegasse a um mundo paralelo onde os encontros e desencontros amorosos parecem adquirir uma dimensão ainda mais dramática.
No texto anterior vimos que, quer Aomame, quer Tengo sentem-se impelidos um para o outro, apesar de já não se verem desde os dez anos de idade. Agora adivinham que ambos se procuram.
Aomame soube-o pelo Líder da seita Vanguarda a quem matara a mando da viúva, que lhe costumava encomendar homicídios de violadores e de quem praticava violência doméstica. Por seu lado Tengo soubera-o da boca de Fuka-eri, a estranha rapariga, que escrevera a história de «A Crisálida de Ar» à qual era dera um estilo mais conforme com o que deveria ser um romance. Até lhe dissera mais: Aomame escondia-se nas redondezas daquele apartamento onde ele vivia há tanto tempo.
Sugestionado pela descoberta de existirem duas luas no céu, Tengo vai até a um parque infantil perto dali, subindo ao topo de um escorrega, para melhor apreciar o estranho fenómeno.
Da sua janela, Aomame olha para o homem lá em baixo e tem o pressentimento de tratar-se de Tengo. A dúvida quanto ao que deve fazer impede-a de chegar a tempo de o contactar no sítio onde o vira. É que tivera de ponderar nos prós e nos contras de sair do seu esconderijo, sabendo-se em perigo de morte face a quem pretendia vingar a morte da sua vítima mais recente.
Tengo já chegara, entretanto, a casa aonde Fuka-eri o avisa de terem telefonado do sanatório onde tem o pai internado: ele está em coma, presumindo-se iminente a sua morte.
No dia seguinte apanha o comboio para acompanhar o progenitor - ou que por tal passara! - nos seus últimos dias. A conselho do médico lê-lhe textos em voz alta, na esperança de colher alguma reação do corpo inerte. Mas algo de misterioso não tardará a acontecer-lhe: num dia em que os enfermeiros levam o pai do quarto para que faça alguns exames, Tengo encontra uma crisálida de ar no sítio onde aquele estivera deitado, podendo divisar-se no seu interior uma minúscula Aomame tal qual a conhecera, quando ambos estavam na escola primária.
Verbalizando-lhe o nome Tengo não imagina que está com essa atitude a impedi-la de se suicidar na autoestrada onde ela viera parar à dimensão de 1Q84´: é que tomara-a de súbito um desespero profundo, que a levara a acreditar na possibilidade de regressar a 1984 se encontrasse as escadas de emergência pelas quais saíra, semanas atrás, de um engarrafamento monstro e conseguira chegar a uma estação de autocarro. Só que as escadas já lá não estão!
É nesse impasse, que se conclui o 2ºvolume da trilogia de Murakami...
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