segunda-feira, novembro 10, 2014

OLHARES: Teria gostado tanto de ir à Nova Zelândia e nunca soube como lá chegar

Nas duas dúzias de anos, em que andei a navegar nos mares de todo o planeta foram poucos os países com costas marítimas, que não visitei.
Quando perdi as graças do mar fiquei a lamentar nunca ter andado pela Bourbon Street de Nova Orleães, nem aportado à Nova Zelândia, que sempre vi considerado como um dos mais belos países do mundo.
Uma lenda sobre esse país colonizado inicialmente pelos maoris entre os séculos XI e XIII; antes de os ingleses os submeterem, diz que, chegado ao sétimo dia da Criação, Deus terá olhado para o planeta e visto uma zona vazia no meio do Oceano Pacífico tendo decidido aí implantar duas ilhas com o que de mais belo tinham as demais regiões do mundo.
E, na verdade, ali estão fiordes tão esplendidos quanto os noruegueses, vulcões tão impressionantes quanto os islandeses, glaciares a rivalizarem com os da Groenlândia, florestas tropicais como as da América Latina ou rios turbulentos como os mais adequados ao rafting da Europa alpina.
Quando há uns trinta anos o grupo de teatro O Bando estreou uma peça chamada «Os Cágados» havia nela um personagem que passava todo o tempo a atravessar o palco a lamentar-se:
- Gostava tanto de ir à China e não sei como lá chegar!
Eu poderia imitá-lo dizendo que teria gostado tanto de ir à Nova Zelândia sem nunca lá ter conseguido chegar. E, no entanto, não andei longe, já que em finais dos anos 90 andei pela costa oriental da Austrália e atravessei todo o Pacífico para ir de Tóquio a Houston com passagem pelo Canal do Panamá.
Compreende-se, pois, o interesse com que vi o documentário «Nova Zelândia, a aventura nos antípodas» cujo link se anexa. Mesmo partindo de uma premissa excêntrica - o papel dos colonos alemães no desenvolvimento da História, da Indústria e do Comércio na Nova Zelândia do século XIX e o fascínio, que justifica a decisão de alguns europeus, maioritariamente germânicos em lá se fixarem, dá razão a quem tanto elogia tal país..
Quanto aos personagens históricos abordados no documentário um deles é Julius von Haast,  que fez a cartografia de vastas regiões das duas ilhas, esteve ligado à descoberta dos vestígios das extintas moas e à criação do primeiro museu neozelandês. O outro é Bendiz Hallenstein, que buscou fortuna na corrida ao ouro numa região inóspita e acabou por a encontrar na atividade de comerciante e de empresário da indústria têxtil.
Os emigrantes do presente são europeus especialistas em baleias, geólogos, criadores de ovelhas, pesquisadores de ouro e uma antropóloga. Todos eles se encantaram com as paisagens de uma beleza inigualável e é por elas que o documentário de Kay Siering e Christopher Gerisch vale a pena. Porque fraco na conceção, propicia quase hora e meia de imagens lindíssimas.
Não é a mesma coisa, que lá ir, mas serve de paliativo acessível. Afinal não é verdade que quem não pode caçar com cão, tem de caçar com gato? 

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