No texto anterior só nos dedicáramos às vicissitudes em torno de Ushikawa e Aomame, uma vez que Tengo estava fora de Tóquio, de visita ao pai, em coma no hospício onde decidira passar os últimos anos de vida.
Uma noite sai com três das enfermeiras, que ali conhecera. E é uma delas, Adachi, quem lhe dá algumas pistas sobre o que deve fazer a seguir ao proporcionar-lhe uma experiência com haxixe: “Se calhar estava na hora de se ir embora. Tirara uns dias de folga ao trabalho e deslocara-se àquela cidadezinha na esperança de ver de novo Aomame, a menina de dez anos dentro da crisálida de ar. E passara quase duas semanas enfiado na clínica onde o pai se encontrava, a ler-lhe livros em voz alta. Mas a crisálida de ar não aparecera. (pág. 171)
Sabendo por Fuka-eri das visitas intrusivas do cobrador de taxas da NHK (televisão pública japonesa), Tengo insta o pai a abandonar essas práticas de quando ainda trabalhava. A lógica perde todo o sentido como se ele pudesse estar ao mesmo tempo deitado na clínica e a deambular pelas ruas de Tóquio.
É para a capital que Tengo volta, constatando já não contar com Fuka-eri no apartamento. Sem conseguir explicar donde lhe vem essa intuição, sente que Aomame também anda por perto a procurá-lo! Por esta altura ainda desconhece que a antiga condiscípula carrega no ventre o filho, que ambos terão gerado, pela interposta colaboração de Fuka-eri, na noite da tempestade, quando o Líder da seita Vanguarda fora assassinado.
Quando volta ao parque infantil onde estivera a constatar a existência de duas luas no céu, ele não imagina estar a ser seguido por Ushikawa, que conseguira aperceber-se da sua chegada a partir do seu ponto de observação privilegiado no rés-do-chão do edifício onde ele mora.
E, por um acaso feliz, Tamaru telefona a Aomame no preciso momento desse regresso de Tengo ao sítio onde ela o vira dias antes. Quando regressa à varanda descobre que quem está no topo do escorrega não é quem procura, mas alguém dele muito diferente: o referido Ushikawa, que imitara Tengo a tentar perceber porque se sentara ele naquele estranho ponto de observação. E também ele fica espantado por ver duas luas no céu.
“Em todo o caso o círculo apertava-se. Mas nem Aomame nem Tengo tinham consciência de que se fechava em torno dos dois a passos gigantescos. Ushikawa pressentia o que estava a acontecer, uma vez que dava passos para que tal acontecesse, mas nem mesmo ele era capaz de ter uma visão global da coisa. Não sabia o mais importante: que a distância entre si e Aomame não passava agora de umas dezenas de metros. E, coisa rara no que tocava a Ushikawa, quando saiu do parque estava incompreensivelmente confuso e era incapaz de ordenar os seus pensamentos.” (pág. 305)
Essa confusão leva-o a não se aperceber de estar a ser seguido por essa mesma Aomame, desconfiada de haver uma qualquer ligação com Tengo. Descobre assim o prédio onde adivinha viver o pai do seu bebé e onde o espião da Vanguarda o espreita. São essas as informações, que passa a Tamaru para que aja em conformidade.
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