Compreendo que um australiano olhe para a obra de um compatriota galardoado com o Nobel da Literatura e o queira dar a conhecer, tanto mais que quarenta anos depois quase ninguém se lembrará de Patrick White. Mas uma coisa é querer levar esse projeto a peito e outro é conseguir realizá-lo de forma a transformá-lo num filme interessante. Ora, «Coração da Tempestade» não o é, mesmo contando com atores de prestígio (Charlotte Rampling, Judy Davis e Geoffrey Rush) e meios de produção razoáveis.
A distância da Literatura ao Cinema continua a ser demasiado grande para a maioria das grandes obras escritas. Confirme-se essa tese em Saramago, cujas transposições dos romances para cinema sempre ficaram aquém do que eles mereciam.
Neste filme de Fred Schepisi temos uma velha senhora à beira do fim, cuidada por algumas empregadas com as suas especificidades próprias, que as tornam mais do que figurantes, e com os filhos a virem da Europa para acautelarem a herança, tanto mais necessária porquanto vivem com dificuldades depois de fracassados os seus projetos de vida.
A velha senhora tem a possibilidade de reviver momentos determinantes do seu passado, sobretudo aquele que terá contribuído para ver a filha distanciar-se de si. Mas acaba por saber a pouco, porquanto os personagens poderiam revelar-se muito mais ricos na forma como exprimissem os seus caracteres...
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