É algo que não consigo evitar: a antipatia por António Lobo Antunes. E, no entanto, quanto fascínio me mereceram os seus dois primeiros romances, o de estreia, «A Memória do Elefante», seguido de «Os Cus de Judas», mesmo que escritos por ordem inversa à da sua publicação.
Estava-se então em 1979 e li-os de enfiada enquanto andava a navegar na costa americana, num inverno passado a transportar crude da Venezuela para as refinarias da Pensilvânia e do Estado de Nova Iorque.
Nas férias seguintes pude ler uma entrevista da Clara Ferreira Alves ao novel escritor e adorei a forma como ele deu a volta às provocações da entrevistadora , então no auge do seu feitio pespeneta.
Os romances seguintes do autor foram-me agradando cada vez menos. Lia-os por militante obrigação, mas concluía-os sem aquele agrado ou sensação de me ter sido acrescentado algo, como deveria ser missão de qualquer livro.
Não tardou que, em 1982, sentisse um enorme fascínio pela forma como Saramago narrou a construção do Convento de Mafra no seu «Memorial do Convento». Logo de seguida comprei e li «Levantado do Chão» e a rendição foi completa, de tal forma intuí um fulgor épico na luta dos camponeses alentejanos contra os latifundiários. E saiu então «O Ano da Morte de Ricardo Reis», que tirava quantas dúvidas subsistissem a respeito de quem era o grande escritor português do final do século XX.
Se Lobo Antunes tivesse prosseguido a carreira literária sem dar conta do seu feitio peculiar, continuaria a lê-lo com a mesma benevolência que me leva a preferir a literatura portuguesa à oriunda de outras latitudes, muito embora faça questão em estar tão atento quanto possível a todas elas. Mas, com a atribuição do Nobel a Saramago em 1998, Lobo Antunes não se inibiu de mostrar a inveja que sentia por não ter sido ele o galardoado. Desde então tenho-me limitado a ler as suas crónicas regulares na «Visão», já que recebo a revista na qualidade de assinante, mas não voltei a comprar-lhe qualquer romance.
É claro que as crónicas em causa são extremamente bem escritas, mas invariavelmente repetem-se nos temas, como se o escritor fosse incapaz de se libertar do leque limitado dos seus temas de interesse: a morte, a evocação dos progenitores, a caracterização dos vizinhos, …
E, no entanto, em entrevista recente ele ainda exprimiu a esperança de conseguir o tão desejado reconhecimento da Academia Sueca!
Pessoalmente não contribuiria em nada para essa eventualidade. Na escrita em português há gente muito mais merecedora de tal prémio, pensando imediatamente em Mia Couto! E se tenho tido alguma correspondência entre os meus gostos pessoais e os dos jurados suecos - além de Saramago posso recordar essa consonância com Gabriel Garcia Marquez, Le Clézio, Gunter Grass ou Modiano -apontaria como possíveis galardoados dos próximos anos Don De Lillo, Pascal Quignard e o referido autor moçambicano.
Português? É pena, mas nenhum virá a suceder a Saramago tão cedo!
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