sábado, novembro 29, 2014

ÉCRÃ: «Interstellar» de Christopher Nolan

Não se consegue perceber bem porquê mas, de súbito, começam a surgir tempestades de poeiras cuja explicação decorre de terem origem no nitrogénio existente  no ar que respiramos. A agricultura, que conseguia alimentar a população mundial, vai ficando cada vez mais condicionada até já só ser possível plantar milho. Não se sabe por quanto tempo mais!
Em desespero de causa, o poder político confia à NASA uma última e desesperada missão: a de indagar se alguma das naves anteriormente lançadas para além do «buraco da minhoca» existente perto da órbita de Saturno conseguira dar com algum mundo habitável para onde fazer emigrar os últimos sobreviventes terrestres.
A contas com a necessidade de garantir o sustento da família depois da morte da mulher, Cooper é dificilmente convencido pelo professor Brand a comandar a missão desesperada em que assenta a última esperança para a Humanidade.
No final teremos o happy end sem o qual o cinema norte-americano mais convencional não parece digno desse nome. As vicissitudes serão muitas, envolvendo deceções com planetas, que pareciam viáveis e se revelam mortalmente perigosos, ou com um dos astronautas previamente enviados e cujo instinto de sobrevivência o faz querer salvar a pele contra todas as regras e princípios. Matt Damon faz o papel desse vilão sem escrúpulos.
Como de costume, quando a situação parecia mais desesperada, é quando surge a solução, que envolve uma viagem de Cooper até à quinta dimensão… para demonstrar o quão extremoso pai sempre foi!
Pessoalmente continuo a ter em «2001, Odisseia no Espaço» o paradigma do filme de ficção científica, que me serve para avaliar todos os demais. Quase sempre deixando-os a léguas em qualidade e verosimilhança…
Com «Interstellar» reconheço, que esse desvio ao padrão é menor do que o habitual. Existe um enquadramento credível sobre o surgimento de fenómenos climatéricos, que põem em causa o futuro da nossa civilização, e as teorias pelas quais se propõe viagens interplanetárias a muitos anos-luz - mediante esse salto através dos “wormholes” - já existem e até tiveram em Carl Sagan um dos seus principais defensores.
Dando de barato que a engenharia aeroespacial da NASA terá evoluído bastante - imagina-se uma «Challenger» a suportar os terríveis esforços impostos pela passagem por esses buracos ou pela entrada num buraco negro? - não se vê razão para que Christopher Nolan quisesse explicar muito detalhadamente os fundamentos científicos, que tornariam possível esse regresso à Terra de Cooper.
Recordemos que Kubrick não se preocupara em elucidar algumas das principais questões levantadas pelo seu filme de 1968: no que consistia de facto essa caixa, que começava por surgir aos homo sapiens da primeira parte do filme, e depois reaparecia numa das crateras da Lua, para culminar na cena final passada - como neste caso - na órbita de Saturno e com a precipitação de David Bowman no buraco negro.
Embora visualmente bastante conseguida a sequência com Cooper a flutuar numa outra dimensão onde as três tradicionais se associavam ao tempo e à gravidade, correspondeu a uma necessidade de não deixar pontas soltas, quando o ganho estaria por certo em suscitá-las e deixá-las como estímulo à imaginação do espectador.
De qualquer forma não deixa de ser um dos filmes mais interessantes do género, por muito que pressinta a facilidade com que cairá no esquecimento!


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