Não deixa de ser curioso o facto de ter visto um documentário sobre o pintor Henrique Pousão, que morreu aos 25 anos e deixou inúmeras interrogações sobre aonde o teria levado o talento se a tuberculose o não tivesse ceifado, exatamente no mesmo dia em que se cumpriu o centenário de António Dacosta.
Nascido a 3 de novembro de 1914, Dacosta pintou intensamente durante uma dúzia de anos, entre 1936 e 1948, então influenciado pelo movimento surrealista de que chegou a ser um dos expoentes em Portugal juntamente com António Pedro, e só voltaria a pegar nos pincéis um quarto de século depois para retomar o fôlego perdido durante outra dúzia de anos.
Pessoalmente acredito que, mesmo ponderadas as épocas distintas em que viveram, Pousão terá sido artista bem mais talentoso do que Dacosta, mas quando lamentamos tudo quanto aquele não conseguiu criar, podemos sempre considerar que as obras merecem ser apreciadas pelo que foram de facto e não tanto pelo que conjeturaríamos terem existido. Porque o pintor açoriano decidiu deixar de criar de motu próprio , quando estava já no exílio parisiense e apenas decidiu manter-se ligado às artes visuais na condição de crítico para jornais portugueses e brasileiros.
Por se lhe reconhecer uma destacada importância na pintura portuguesa do século XX, o CAM está a dedicar-lhe uma retrospetiva, que pretende conferir-lhe uma dimensão, que o próprio Dacosta parece não ter atribuído a si mesmo.
Mas como tudo quanto é exposto naquele edifício da Fundação Gulbenkian, vale a pena a visita.
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