«Um Dia na Vida» descreve o sonho de um narrador, que não chegamos a perceber se é o próprio escritor se um seu alter ego.
Viajante infatigável, Urbano terá recordado muitos dos sítios por onde passou para criar essa cidade monumental, ”um misto de Roma e de Lisboa”, onde vê estátuas de grandes pensadores do passado - a começar em Platão e a terminar em Karl Marx - que denotavam um tempo onde se dedicava grande preito ao pensamento filosófico e científico.
Mas, passeando de braço dado com a mulher, já dá de caras com “as novas marcas e estratégias do poder” (pág. 21).
E o casal entreolha-se com cumplicidade: “Têm os governantes necessariamente de se apalhaçar assim para agradarem e falar tanto em democracia e liberdade quando cada vez mais desses valores se distanciam? Teremos de gramar eternamente as mesmas obesidades mentais, a mesma mediocridade, o mesmo egoísmo palrador?” (pág. 21)
Numa metáfora clarividente a aparente solidez do capitalismo - espelhado numa cerimónia no palácio da câmara municipal - esboroa-se subitamente num terramoto, que transforma a cidade num espaço em ruínas. Urbano dá então vazão á costela cinéfila introduzindo na história o berço, que sai das mãos da mãe aterrorizada, tal qual se viu no «Couraçado Potemkin» de Eisenstein.
Mas desse caos ressurge um valor, que andava aparentemente esquecido: o da solidariedade, que une homens e mulheres dispostos a ajudarem os que estão feridos e soterrados. É uma nova sociedade, que se anuncia depois desse terramoto bem mais político e social do que factual...
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