sábado, agosto 05, 2017

(DL) Uma incontornável abordagem do pesadelo americano

Não sabia que Sam Shepard padecia de uma doença similar à que, há trinta anos, nos levou Zeca Afonso. Com ele diz-se que morreu uma parte da América grandiosa, antagónica no conceito à agora propagada pelo tonto inquilino da Casa Branca.
Constatámo-lo nos argumentos que escreveu para Antonioni («Zabriskie Point») ou para Wim Wenders («Paris Texas»): tal como no-lo descrevia o seu subcontinente natal era o dos desadaptados, dos que não aceitavam ou se viam rejeitados pela realidade cruel dos que tudo trucidam à volta para fazerem seu o tal sonho americano só privilégio de uma ínfima minoria.
Como ator a sua presença também impressionava: no papel de Chuck Yeager quase ganhou um Óscar (esse «Eleitos» é um dos filmes da minha vida!), mas também o evocamos em filmes de Terrence Mallick, Robert Altman, Alan J. Pakula e tantos outros.
Preferencialmente ele perdurará como escritor: as suas peças teatrais refletem a verdadeira natureza de um país, que não se compadece com as mistificações a que o querem associar. Encenadas um pouco por todo o mundo serão elas a perenizar um autor incontornável na abordagem do desespero a que os grandes espaços, ou as suas metafóricas prisões, sujeitam as asfixiadas existências de quem neles tenta sobreviver.

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