quarta-feira, agosto 30, 2017

(DIM) Um português na rodagem de um filme argentino

Rui Poças é um dos mais interessantes diretores de fotografia do atual cinema português, presença habitual no genérico de obras de Miguel Gomes ou de João Pedro Rodrigues. Agora, em Veneza, no festival em curso, é ele o responsável pela imagem de «Zama», o mais recente, e muito aguardado projeto da argentina Lucrécia Martel.
Na entrevista que deu a Vasco Câmara, ele conta como, apesar de situado no século XVIII, a realizadora pretendia uma ambiência oposta à do canónico «Barry Lindon». E lembrou-se, então, de um quadro descoberto num museu de Copenhaga e intitulado “And In His Eyes I Saw Death” de Ejnar Nielsen.
Datado de 1897 essa obra é o exato contrário da exuberância de cores e de expressão corporal dos personagens do filme de Kubrick. E, tanto quanto se pode aferir das palavras de Poças, ajusta-se, na sua intemporalidade austera, ao clima pretendido pela realizadora, que mantém a estória como sendo passada há três séculos, mas a aborda com a flexibilidade de podendo concebe-la numa lógica de ficção científica. Porque alguém que espera por um futuro, que parece distanciar-se cada vez mais, tanto pode fazer sentido nesse passado colonial como nos nossos dias, ou num qualquer devir.
Pelo que se pode depreender do trailer parece prometida a habitual reação de estranheza, mas também de fascínio, que se evoca da experiência de espectador dos anteriores filmes de Lucrécia Martel.



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