quinta-feira, agosto 03, 2017

(AV) Joe Blundell, pintor tardio

Para Joe Blundell a pintura surgiu como uma vocação natural: desde miúdo que alimentou o prazer de reproduzir na tela a casa dos amigos.
Aos 12 anos um vizinho comprou-lhe o primeiro quadro e gostava tanto dele que, quando morreu, os pais de Joe constataram que o tinha por cima da lareira.
Teria sido natural que, respeitando-lhe a vontade, eles lhe aprovassem a concretização do talento com a correspondente formação académica. Mas assim não foi: porque acreditavam não ser essa a forma de ganhar a vida coagiram-no para estudos, que lhe rendessem uma boa carreira profissional.
Sem força bastante para lhes opor a vontade, Joe anuiu e andou trinta anos a fazer pela vida na tal carreira proveitosa, mas que nada lhe dizia, mudando-se da Inglaterra natal para Melbourne na Austrália. Sem perder o dote do observador atento das luzes e das cores. Sobretudo nos edifícios, quer antigos, quer modernos, em cujos contrastes percecionava uma efetiva harmonia.
Há meia dúzia de anos viu-se forçado a regressar a Inglaterra para apoiar os pais nas respetivas doenças. Com muito tempo livre recomeçou a pintar. E sentiu que não voltaria a fazer outra coisa: ao regressar ao outro lado do planeta transformou o apartamento em atelier e dedicou-se à pintura a tempo inteiro. Explorando precisamente essa mutação das cores nos edifícios à medida que a luz do dia lhes vai alterando o aspeto.
A opção naturalista nada traz de inovador, mas comercialmente constitui assinalável sucesso, despertando o interesse da Saatchi, que lhe comercializa algumas das obras.
Joe Blundell não ficará na História da Arte, mas a sua história é a de tantas pessoas, que abafaram os talentos durante muitos e muitos anos e passaram ao lado do que eles poderiam potenciar. Porque trinta anos depois, quando os tentam resgatar, já será tarde para serem mais do que estimáveis artesãos do seu saber. 

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