segunda-feira, agosto 14, 2017

(DIM) Profissão Alpinista

Depois de Londres e antes de Amesterdão ou Haia, a nossa vida de pais com uma filha lançada em carreira profissional além-fronteiras focou-se numa cidade francesa, que pouco significara para nós até então: Grenoble. Visitando-a em várias estações do ano, tanto ladeámos as impressionantes montanhas cobertas de neve como chegámos a arriscar uma subida à mais próxima, a Bastille, na outra margem do rio Isère, só pelo prazer de olhar a cidade noutra perspetiva.
Situada nas faldas dos Alpes sabíamos das pistas de ski onde ocorriam frequentes competições internacionais. Por isso mesmo foi sem espanto, que aí tomámos conhecimento de um festival de cinema totalmente dedicado aos maluquinhos do alpinismo. A exemplo de outros acontecimentos do género, este tinha os seus heróis, que nos eram totalmente desconhecidos, e toda a caterva de conferências e workshops, muito frequentados por quantos ansiavam pelos fins-de-semana para neles aproveitar a oportunidade de se testarem fisicamente à escala local na imitação dos grandes exploradores dos Himalaias.
Não me admiraria, que «Messner: profissão alpinista» tenha sido apresentado com a devida pompa e circunstância, tendo em conta a relevância de Reinhold Messner enquanto admirado praticante da modalidade. No curriculum conta com catorze cumes acima dos 8 mil metros de altitude e, em 1980, empreendeu uma arriscadíssima subida solitária ao topo do Evereste sem suporte de oxigénio.
A longa-metragem de Andreas Nickel, datada de 2011 não é propriamente uma hagiografia: aborda a forte influência do pai na sua vocação, embora ele e os irmãos não se privem de o caracterizar como um homem brutal, que nunca perdeu o padrão de comportamento do exercito nazi, que servira sem qualquer remorso posterior. Não se contornam os fracassos por que Messner passou, alguns deles com consequências trágicas, nomeadamente com a morte dos seus parceiros de expedição. Um deles foi um irmão, que sempre o tentava acompanhar nas difíceis escaladas.
Há também a militância política: situando-se à esquerda do espectro partidário, ele foi deputado europeu pelos Verdes durante um mandato. Mas o filme é, sobretudo, uma excelente oportunidade para conhecer materiais de arquivo e admirar as belíssimas paisagens das montanhas, que Messner continua a utilizar como alibi para o que designa como “conquista do inútil”. Quanto mais não seja, porque elas lá estão, para poderem ser escaladas...


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