quarta-feira, agosto 23, 2017

(DL) Um breve momento de felicidade antes do horror

Em 1931 os filhos do escritor Thomas Mann partiram para a Côte d’Azur para escreverem um texto irreverente destinado à revista Baedeker, que procurava dar dos cenários mais glamourosos de então uma perspetiva diferente.
Com 26 e 25 anos respetivamente, Erika e Klaus gostavam de se apresentar como gémeos  em todos os espaços por onde decidiram passear-se com a intenção de os verter em descrições irónicas, Dos casinos às esplanadas, dos hotéis às frequentadas praias, eles não podiam imaginar quão em perigo estava esse mundo descontraído em breve ameaçado pelo regime em breve implantado no seu próprio país. Nas semanas em que ali vão acumulando e até partilhando amantes, sendo ele homossexual e ela deitando-se quer com os parceiros do irmão, quer com raparigas fascinadas pela sua sensualidade, os jovens Mann terão vivido os momentos mais felizes das respetivas existências.
Obrigados a exilarem-se tão só Hitler empossado como führer,  Klaus iniciará uma queda no abismo, que o levará ao suicídio em 1949, quando o álcool e os comprimidos o haviam já convertido num farrapo. Ainda assim tivera disponibilidade bastante para deixar como obra testamentária esse «Mephisto», que dá uma perspetiva tão desesperada do que foi esse sinistro período da História alemã. A irmã sobreviver-lhe-ia vinte anos, mas não deixaria de, enquanto exilada nos Estados Unidos, sofrer nova perseguição ou não se convertesse num ódiozinhos de estimação dos macarthistas.
Ao revisitar-se os textos resultantes da viagem de 1931 não pode deixar-se de sentir um certo frémito por serem os de quem não imaginava quanto tudo se lhes viraria do avesso e os deixaria a contas com ameaças, que nunca deixariam de os assombrar até ao fim.


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