segunda-feira, junho 12, 2017

(DL) Vassili, o velho general

Vassili já tinha 87 anos quando Svetlana Alexievich o entrevistou nos anos noventa, ainda «O Fim do Homem Soviético» era projeto longínquo a considerar. Para ele a pertença ao Partido desde 1922 era inabalável motivo de orgulho. Ao contrário da mistificação disseminada por quem pretendia denegrir setenta anos de História e enaltecer os que os tinham antecedido, ele sabia bem do que falava, quando evocava o quão mal se vivia na Rússia dos czares. A pobreza, a fome, a doença frequentemente fatal por falta de tratamentos, faziam da vida dos povos do Império um abominável  Inferno na Terra. E o apelo ao conformismo com tão má sorte tornara odiosos os popes e as mentiras por eles emitidas a pretexto de um Deus sem compaixão pelos mais desfavorecidos.
Não admira que as promessas bolcheviques  de 1917 tenham merecido tão grande apoio. Porque não há como nega-lo: a Revolução Russa representou a esperança de um outro viver para milhões de desesperados.
Svetlana Alexievich pode surpreender-se com a firmeza das convicções em quem foi vítima das purgas estalinistas de 1937: Vassili passou alguns anos nos campos de trabalho siberianos e a mulher não sobreviveu ao que lhe coube na desdita. Mas regressara a tempo de combater pela pátria soviética contra o invasor nazi e nunca perdera de vista o que deveria ter sido o objetivo derradeiro de um regime capaz de ter edificado as fábricas, as barragens e os campos petrolíferos entretanto abocanhados pelos amigos de Ieltsin.
À beira da morte Vassili sabia que o ideal comunista passaria por hiato de imprevisível duração, mas não duvidava da sua perenidade. Porque nenhum outro se lhe pode substituir enquanto um número ínfimo de exploradores impedir a enorme maioria de garantir o merecido direito à felicidade.

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