quarta-feira, junho 21, 2017

(DIM) «Perfume de Mulher», o filme que garantiu o primeiro Óscar a Al Pacino

Em 1992, depois de revelar o talento em filmes bem mais interessantes, Al Pacino ganhou o seu primeiro Óscar da interpretação masculina com este papel de Frank Slade, um tenente-coronel, que estivera no Vietname e nos serviços secretos durante o mandato de Lyndon Johnson e cegara num acidente com granadas, quando estava embriagado. Trata-se, no fundo, de uma tradição da Academia de Hollywood: ou se esquece de quem mereceria receber a consagração - e o caso mais paradigmático aconteceu com «O Mundo a Seus Pés» de Orson Welles - ou, quando o faz, já é tarde, a desoras e por trabalhos aquém dos que deveriam ter sido premiados.
Quer isto dizer que, num ciclo consagrado a Al Pacino, este desempenho destoa dos já apreciados nos filmes anteriores? Nem tanto ao mar, nem tanto à  terra, muito embora haja neste trabalho em particular um aflorar do cabotinismo noutras circunstâncias bem mais contido.
Martin Brest, o realizador desta suposta adaptação do filme italiano do mesmo nome, assinado por Dino Risi em 1974 - mas quase com nada a assemelhá-los na estória! - mostra a habitual competência dos tarimbeiros de Hollywood, que não surpreendem pelo engenho, mas também não comprometem uma intriga bem urdida.
A vinte cinco anos de distância, quem viu o filme recordará sobretudo a cena do esplêndido tango dançado com uma desconhecida num salão de baile e que garantiu fama eterna a Gabrielle Anwar, que nunca mais conseguiu desempenho, que se assemelhasse a este. Mas tudo se define na relação de Frank com o jovem Charles, contratado por 300 dólares para o acompanhar durante o fim-de-semana da Ação de Graças, porventura o mais importante feriado anual norte-americano.
Cria-se rapidamente uma relação paternal entre o mal humorado militar e o rapaz acicatado por tantos problemas: já não lhe bastava ser um dos poucos pelintras (vale-lhe uma oportuna bolsa!) num colégio elitista destinado a preparar os betinhos para entrarem em Harvard, como tem às costas a ameaça de expulsão por resistir ao papel de bufo pretendido pelo diretor, que lhe exige os nomes dos três colegas, que o terão sujeito a uma partida humilhante.
Incapaz de controlar os acontecimentos Charles vê-se rapidamente num avião tendo por destino Nova Iorque, onde Slade reserva quartos no seleto Waldorf Astoria. É nesse voo, que o vê confessar o fascínio fetichista pelos variados perfumes das mulheres.
Seguem-se dias como nunca Charles sonhara viver: fazem-se transportar em limusines, comem em luxuosos restaurantes, compram fatos de corte irrepreensível. Slade está disposto a usufruir o que de melhor a vida lhe pode oferecer porque, como Charles não tardará a compreender, pretende fazer de tal viagem a sua despedida. Convencê-lo a não usar a arma de serviço contra si mesmo, é tarefa a que se entrega com suficiente competência para o ir disso dissuadindo. Mesmo que isso implique passar pelo susto de ver Slade pilotar um Ferrari em ruas movimentadas, apenas guiado pelas suas orientações.
O final será, obviamente, feliz: Charles verá resolvidos todos os seus problemas e Slade até regressa a casa com outra assertividade para  com os sobrinhos, que lhe suportavam os maus humores.
Quando se chega ao final podemos reconhecer que as duas horas e meia de filme poderiam ter sido encurtadas pelo menos de um quinto para se fixar nas bem mais aceitáveis duas horas. Mas não terá sido essa a decisão de quem se incumbiu da montagem final e só temos de nos acomodar a essa escolha...


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