quarta-feira, junho 07, 2017

(DIM) Como Al Pacino relançou a carreira depois de lha darem por finda

Na próxima quinta-feira, dia 8, o segundo filme do ciclo dedicado a Al Pacino traz-nos um policial, que é muito mais do que isso: estão em causa questões como a da confiança dentro do casal ou as perspetivas distintas, que podemos ter para com a mesma realidade.

Em 1985 Al Pacino conheceu um rotundo fracasso na carreira de ator, quando «Revolução», um filme de Hugh Hudson em que muito apostara, representou colossal fracasso.
Ele que já protagonizara títulos tão marcantes como «O Espantalho», «Serpico», «Scarface» «E Justiça para Todos» sem esquecer os dois primeiros «Padrinhos», via a imprensa dá-lo como um exemplo de quem rapidamente chegara à notoriedade para, depois, descambar no esquecimento total.
Durante quatro anos Pacino remeteu-se aos palcos teatrais parecendo comprazer-se no contacto direto e quase quotidiano com o público. Até que, em 1989, irá protagonizar este «Perigosa Sedução» com que relançará a sua carreira cinematográfica.
Trata-se de uma obra-prima? Decerto o não será, embora constitua um policial de construção clássica capaz de criar uma crescente tensão até ela se resolver de uma forma algo insatisfatória. Mas, nessa altura - quando se descobre quem é o serial killer, que anda a matar homens apostados em marcarem encontros amorosos através de mensagens poéticas numa revista cor-de-rosa -, isso já pouco interessa, porque o essencial passou a ser a personalidade do protagonista.
O primeiro terço do filme tem por objetivo parametrizá-lo dentro das suas forças e fraquezas: é verdade que tem por si a experiência de vinte anos como detetive de homicídios em Manhattan e um talento reconhecido como solucionador dos casos mais complicados. Mas, por outro lado, vemo-lo a afogar em álcool a dor de ter sido abandonado pela ex-mulher, que o trocara por um colega da mesma esquadra. Neste último reconhecemos Richard Jenkins, um dos mais competentes atores norte-americanos e dos menos reconhecidos. Assim como, nesse primeiro terço surge outro grande nome de Hollywood, esse assertivo John Goodman, que será o parceiro complacente de Frank e quem o vai livrando de apuros.
Eis senão que aparece Ellen Barkin com a sua sensual presença a logo arregalar os olhos do polícia. E a paixão obsessiva torna-se tortura, porque o filme irá colocar uma questão pertinente: até que ponto poderemos confiar em quem amamos? Ou, de outra forma, até que ponto a eventual desconfiança não porá em perigo uma relação, que se pretenderia sem mácula?
A esta questão junta-se outra, menos relevante, mas com interesse complementar num filme, que se vai mostrando muito mais complexo do que a sua intriga policial pressuporia: quantos pontos de vista poderemos ter do mesmo local? Se um vê os sítios onde se cometeram violentos homicídios, faz sentido que haja quem os admire no seu feérico encantamento? Nova Iorque surge, de facto, como outro personagem fundamental, tão importante quanto as de carne e osso.
É por todos estes argumentos, que «Sea of Love» é um belíssimo filme. Quase trinta anos depois é daqueles, que continua muito presente na memória. E que tem uma pérola final a não perder: a interpretação de Tom Waits do tema que dá o seu nome em inglês ao filme. Verdadeiramente a ouvir com deleitada atenção.


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