quinta-feira, junho 22, 2017

(DL) Russell Banks, o quase desconhecido

Que eu saiba Russell Banks só teve um dos seus muitos livros publicado entre nós: «Darling» e foi a Teorema que ousou divulga-lo há mais de dez anos. Sem sucesso - está-se mesmo a sentir! -, porque permanece desconhecido, apesar de não desmerecer dos mais conhecidos Paul Auster ou John Irving.
«Darling» , publicado em 2004, era a história de Hannah Musgrave, uma quase sexagenária que abandonava a sua quinta ecológica para regressar a África, onde vivera a partir dos anos 70, quando, jovem oriunda da burguesia de esquerda, decidira mudar-se para a Libéria e trabalhar num laboratório por conta de sociedades farmacêuticas americanas. Aí conhecera e casara com o Dr. Woodrow Sundiata, burocrata local, oriundo de uma das mais poderosas tribos do país e vocacionado para prometedora carreira política.
Acontecera, porém, a devastadora guerra civil e Hannah fugira dos seus sinistros efeitos regressando à América e deixando para trás os três filhos. O romance é o do regresso de uma mulher complexa, eivada de má consciência, e em busca da identidade por entre as mentiras e confissões, os erros e os arrependimentos.
Apoiante entusiasta de Bermie Sanders, Russell Banks nasceu no Massachusetts em 1940, passando a infância numa pequena cidade do New Hampshire. Estava a estudar na Universidade, quando se sentiu tentado pela Revolução Cubana, juntando-se às forças rebeldes de Fidel Castro. Não admira que toda a sua obra seja perpassada pela abordagem das barreiras sociais e raciais.
«Continental Drift», de 1985, expressa bem essa preocupação, com dois personagens, Bob Dubois e Vanise Dorsinville. O primeiro reparava caldeiras no New Hampshire e convencera a mulher e as filhas a mudarem-se para a Flórida para aí encetarem uma nova etapa passível de os libertar da pobreza. Ela era uma emigrante do Haiti, que viera com o bébé e o sobrinho à procura do pai deste último.
Existe, pois, a esperança num novo começo, mas que se revela ilusório: as dificuldades são tantas, que só encontram solidão, injustiça, desajuste em relação ao que prometia ser o espaço da utopia. A trágica condição humana confronta-se com a negação do sonho americano.
No pesadelo inerente à conquista da Casa Branca por Trump, Russell Banks teme sobretudo os ataques à liberdade de expressão, colocando-se na mira de quem detém o poder: “cada vez que um regime autoritário procura um inimigo o primeiro que encontra é um escritor!”.
Tenho agora em mãos o seu livro mais recente - «Voyager» - publicado em 2016. Trata-se de uma autobiografia pretextadas pelas muitas viagens que fez pelas Caraíbas, Andes, Himalaias. Revisita o encontro com Fidel, recorda os hippies de Chapel Hill, as experiências radicais, a fuga para Edimburgo para casar com a quarta esposa.  Mas o que sobreleva de todas essas evocações são as suas interrogações sobre o mundo, o balanço das relações com quem amou e desamou, numa permanente busca de si mesmo. Uma leitura que promete ser estimulante...

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