terça-feira, junho 13, 2017

(DL) Foram tantos os Jesus no tempo de Cristo

A excomunhão a que Tomás da Fonseca foi sujeito em 1949 tinha a ver com a sua denúncia da responsabilidade das congregações religiosas na miséria, opressão e atraso mental dos portugueses desde há séculos. Ver tão forte acusação estampado num jornal, mesmo que da tolerada Oposição, foi ousadia demasiada para os acusados. Mas já Alexandre Herculano evocara a contradição das práticas do clero católico com os preceitos instituídos na XXV sessão do Concílio de Trento:” As imagens de Cristo e da mãe de Deus e a dos outros santos, cumpre que se tenham e se conservem principalmente nos templos e se lhes tributem honra e  veneração, não porque se deva crer que nelas haja de divindade, ou tenham virtude alguma pela qual se lhes renda culto, ou se lhes façam súplicas, ou se ponha confiança nelas, como outrora faziam  os gentios, que colocavam as esperanças nos ídolos.”
O que indignava o velho republicano era essa transformação da religião católica numa indecorosa veneração de ídolos, com bispos e padres a incentivarem a absurda crença popular de haver algo de miraculoso a esperar de uma estatueta sem qualquer valor senão o simbólico, que lhe quiseram atribuir.
O culto a Jesus Cristo decorrera do mesmo querer voluntário de quem, através dele, criou forte argumento de contestação do regime esclavagista do Império Romano. Se nos ativermos à documentação escapada aos autos-de-fé ao longo dos séculos, compreendemos terem existido diversos pregadores,alguns deles chamados Jesus, e todos de convincente eloquência nas falas para arregimentarem os que se pretendiam libertar das grilhetas da escravatura.
Com os evangelhos a aparecerem muito depois da sua “morte” o Jesus nele narrado mais não é do que a súmula dos diversos pregadores, que então mobilizavam os povos da Palestina.  Flávio Josefo, historiador romano da época desses acontecimentos «bíblicos», reporta como sucessivos agitadores iam colhendo a atenção da população de Jerusalém. Em «A Vida de Flávio Josefo» escreve: “apesar destes fracassos, o espírito popular continuava aguardando que outros profetas surgissem a fim de libertar o povo. E esses não se faziam demorar.”
Josefo reporta a existência de um sacerdote do Templo, também ele de nome Jesus,, que entregou ao imperador Tito “dois candelabros, muitas mesas, pratas, gomis e taças, tudo em oiro maciço e de grande peso, a que juntou ainda véus e ornamentos dos pontífices , cravejados de pérolas finíssimas, e com eles muitos vasos e outras alfaias preciosas para usos litúrgicos”.
Simão Mago e Apolónio de Tiane foram «mágicos» a quem se atribuem prodígios depois transferidos para Jesus pelos evangelistas. No fundo o que Tomás da Fonseca pretendia, com a longa descrição histórica dos acontecimentos de há dois mil e poucos anos na Palestina, era confrontar Cerejeira, a quem ia endossando sucessivas cartas, com a comprovada falsidade dos seus dogmas.

Sem comentários: