quinta-feira, junho 08, 2017

(AV) O Gran Canale representado por Canaletto

Se tivesse vivido há três séculos e os negócios ou o lazer me fizessem  escalar Veneza, a compra de um Canaletto - embora dispendiosa -, seria quase obrigatória. Numa época em que a fotografia e o cinema ainda estavam por inventar, seria uma das suas prodigiosas vistas sobre o Gran Canale a fundamentar a posterior evocação de um espaço com tanto de mágico.
A cidade perdera o fulgor económico de três séculos atrás, quando a Rota da Seda ainda funcionava em pleno e os portugueses não se tinham adentrado pelo Atlântico e Índico para chegarem à Índia. Mas, se os tempos faustos eram uma saudosa memória, Veneza continuava pujante nas artes. Ao colocar as telas e as paletas nas ruas ou nas varandas dos edifícios Giovanni Canal encontrava-se muito provavelmente com Vivaldi, Tiepolo ou Goldoni. O que porventura mais interessaria estes e outros, que por ele passavam, seria esse estranho caixote, a câmara oscura, que lhe facilitava a criação da perspetiva.
Trouxesse tal quadro para a Lisboa setecentista e conseguiria êxito garantido: a cidade do Adriático usufruía de justa fama, que ultrapassava distâncias e fronteiras. E não faltaria quem quisesse apreciar aquelas vistas, que tanto se assemelhavam à realidade a quase todos inacessível.
Em época de animado convívio em salões essa representação animaria conversas sem fim... 

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