segunda-feira, junho 12, 2017

(DL) Uma santa sem compaixão pelos que a ela se devotavam

Tomás da Fonseca era um daqueles republicanos da velha cepa, que não só utilizavam as ferramentas da razão para fundamentar a total inexistência de Deus, como recorria ao mesmo método científico para comprovar quão absurda era a crença num ídolo fabricado por um trio de engenhosos empresários para enriquecerem graças às fabricadas “aparições” da Cova da Iria.
«Na Cova dos Leões» é o título do livro onde juntou todas as cartas enviadas ao Cardeal Cerejeira para lhe apelar à inteligência e à honestidade. Se da primeira não duvidava, da segunda confirmou o quanto tal virtude dele estava ausente.
Serve-se, por exemplo, do «Primeiro de Janeiro», que publicara uma reportagem elucidativa sobre a impiedade da Virgem para com os peregrinos vindos de longe para a venerarem  e se depararam com as inclemências da meteorologia: “Esperavam-se numerosos milagres, mas aquele temporal estragou tudo. O temporal e o lamaceiro. E a tão vivamente aguardada romagem nacional do desagravo findou em lamentosas queixas daqueles desgraçadinhos que de tão longe tinham vindo para serem acolhidos com bênçãos e graças da Senhora, de quem nem sequer se despediram, e de quem apenas receberam chuva e frio e lama, regressando, encharcados e enlameados, a suas casas!”
Seria a Virgem tão sádica, que infligia duras penas a quem tanta devoção por ela demonstrava? Com poderes tão admiráveis como os de ter descido dos Céus e feito previsões assustadoras aos pastorinhos revelava-se afinal tão indiferente às travessuras dos ventos e das trovoadas?
Prossegue Tomás da Fonseca: “Essa tormenta, com aguaceiro e lama, e, a seguir, o abandono a que a Senhora votara os seus melhores devotos, chocou e arrefeceu profundamente a crença pública. Depois desta, naquele ano, houve ainda romagens, fizeram-se ainda desagravos, mas tudo à pressa e, dir-se-ia, sem ponta de fé na Peregrina. Os próprios devotos torrejanos, sempre de pé no ar para correr aos santuários, só com muitos pedidos e viagens pagas conseguiram encher algumas carripanas, mas ansiosos por acharem motivos que lhes fizessem arrepiar caminho. O órgão local, tão entusiasta em matéria de é, apenas emitiu uns leves sons, que denotavam, claramente, quebramento que lhes ia nas almas”.
Nesse ano de 1949 a trapaça organizada em Fátima viu-se ameaçada por tão inóspito vendaval. Como acreditar nos milagres da Senhora se ela nem sequer se dava ao trabalho de facilitar o cumprimento das promessas aos seus prosélitos? No Vaticano, no Patriarcado e no bispado de Leiria devem-se ter feito horas extraordinárias em congeminações para não deixar estacar os importantes fluxos monetários movimentados pelo Santuário. E que pensaria Salazar da irreverência dos homens e mulheres, que se desapegavam da religião e davam crescente atenção a quem se propunha afastá-lo das rédeas do Poder? Será que teve assombrações com as imagens do cadáver de Mussolini pendurado de cabeça  para baixo por quantos o tinham submetido a julgamento sumário?

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