domingo, junho 11, 2017

(DIM) Onde fica a nossa casa?

Esta é a questão de Eilis, protagonista de «Brooklyn», o romance de Colm Toibin, que ganhou no cinema o rosto e o competente desempenho de Saoirse Ronan.
Ficará no sítio onde se nasceu, mas onde só se é reconhecido no regresso quando se ostenta o porte seguro de quem viu outras realidades e superou os preconceitos com que partira? Ou será essa terra de acolhimento, muito difícil de suportar de início, mas bem mais afável, quando se conquistaram amizades, e sobretudo, se conheceu o amor?
Dito de outra forma, pois a isso o filme nos impele: é onde fica a família que resta ou onde a promessa de futuro, prenhe de oportunidades, abre avenidas largas onde cabem todos anseios?
À primeira vista a decisão não deveria ser difícil: nos anos 50, quando esta estória acontece, a diferença entre a cosmopolita cidade dos sonhos e a preconceituosa aldeia irlandesa era abissal. Numa evoluía-se na acelerada sucessão de novos valores e inventos, na outra congelava-se na pressão retrógrada do clero católico. Mas Eilis chega a duvidar: apesar de tudo também ali lhe prometem um estatuto acima da original condição.
Será necessária a intervenção do que de pior tem esse tipo de espaços sociais - a intriga, a coscuvilhice, a pérfida tentação de fazer o mal - para empurrar Eilis na direção do outro lado do oceano. E nós, que lhe fomos acompanhando as inquietações, as descobertas e as contradições, acabamos por aquietar os receios de a vermos novamente presa ao labirinto donde tinha começado por se libertar.

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